INNER SENSE

Autonomia e acessórios

Escrito por Constância Matos “Uma das propriedades mais imediatas do ser vivo é sua autonomia”. Maturana  Experimente digitar a palavra “Autonomia” em um buscador da internet e observe quantos conceitos saltarão na sua tela. Você vai perceber que a palavra “Autonomia” tem conceito muito amplo e que pode ser facilmente confundida com a palavra liberdade e com outras crenças como por exemplo: ser dono da própria vida. Não é o objetivo deste texto discutir e explicar cada significado encontrado e sim amalgamar os conceitos de “Autonomia” que nos interessam com o pensamento Inner Balance acerca do conhecimento e apropriação do próprio corpo, a fim de dar continuidade a nossa conversa sobre “o toque”, a partir dos acessórios desenvolvidos pelo método. Semanticamente “Autonomia” deriva do grego, formada pelo adjetivo “auto” = “o mesmo”, “ele mesmo” e “por si mesmo” – e pela palavra “nomos” = “compartilhamento”, neste sentido a  palavra “Autonomia” significa propriamente a competência humana em “dar-se suas próprias leis. A filosofia compreende a “Autonomia” como a condição de uma pessoa determinar por si mesma a lei à qual se submeter, o indivíduo escolhe suas normas e valores, faz seus projetos, toma decisões e age em consequência dessas escolhas e na  psicologia a “Autonomia” é entendida como a preservação da integridade do eu.   O Inner Balance preza e estimula a“Autonomia” instrutor/facilitador do método, quanto do aluno/praticante ambos são incentivados a apropriarem-se dos movimentos do próprio corpo a partir do repertório corporal que possuem. Aprecia-se a conquista da corporeidade¹, do autoconhecimento, pois acredita-se que a potência da expressão pelo movimento procede destes lugares. Interessa ao método o lugar da investigação, “é preciso pensar o instrutor como bússola”, lembra  Bruna Petito aos instrutores/facilitadores da rede (sempre em contínua formação), da importância de conhecer seu próprio processo, seu lugar no mundo, para realmente habitar seu corpo e construir um lugar de abertura para a troca verdadeira com o aluno.   É sabido que o toque possibilita aos indivíduos que estão no processo de redescobrir a organização de seus corpos interna e espacialmente, a acessarem lugares de investigação que talvez não conseguissem sem este direcionamento pontual.  A mediação do toque contata a pessoa em sua globalidade corporal e psíquica, cria condições de uma reciprocidade atuante entre o Instrutor/facilitador e aluno/praticante, o que requer uma qualidade de presença dos envolvidos no trabalho corporal.(Danis Bois, p. 205) A fim de provocar o despertar da corporeidade, da “Autonomia” e pensando também na possibilidade de proporcionar um acolhimento e um estar próximo do aluno, que o  primeiro acessório do Inner Balance foi desenvolvido.  Bolinhas  Balance Balls As balance balls, as nossas amadas bolinhas tem uma densidade firme, proporcionando o contato da camada mais profunda da pele, trabalhando desta forma a soltura dos tecidos do corpo em movimento. Uma curiosidade sobre as é que elas foram pensadas enquanto a Idealizadora do método se encontrava na sua viagem de lua de mel. Os alunos ligavam dizendo que gostariam que a mão dela tivesse ficado com eles, pois estavam sentindo muita falta e como ela poderia ajudá-los a sanar as dores mesmo estando de longe. Assim as balances ganharam vida e a densidade do cotovelo da Bruna Petito. Entre o desenvolvimento e o lançamento decorreu um ano de pesquisa, até chegar na densidade e tamanho ideal para o encaixe nas articulações; hoje são mais de dez mil bolinhas espalhadas pelo mundo.  Aromaterapia Foi desenvolvida em parceria com a Chris Penna, aromaterapeuta que acompanha a Bruna Petito há quinze anos, que juntas desenvolveram o spray terapêutico especialmente para o Inner Balance. O objetivo do spray é criar uma atmosfera de conforto e despertar boas sensações a partir do sentido olfativo proporcionando ao aluno/praticante bem-estar físico e mental. É utilizada no início e no momento da prática com a balance ball. Sense   O sense é uma parceria do Inner Balance com o Stretch-eze®. O Sense tem uma composição super especial de spandex que não se deforma com o uso e que tem suas fibras organizadas de maneira a facilitar o seu deslizamento conforme o estímulo recebido, facilitando desta maneira os vários direcionamentos do trabalho fascial.  A sua dupla costura permite a expansão do tecido eliminando o risco de qualquer acidente durante o seu uso. O tecido do Sense é lavável e não absorve odores. O sense é um afago no corpo em razão do seu design acolhedor. Tem um módulo do método inteiramente dedicado ao estudo do acessório. Fluid Balance Estimula a propriocepção, sensibiliza e promove aconchego em razão do formato esférico e do seu fluido. A fluid auxilia a conquistar espaços e aliviar tensões na região sacro-ilíaca.  Imagens Intuitivas Surgiram a partir do momento em que Bruna Petito iniciou a sistematização do Método. O Inner  Rodrigo Rivera, artista e Fisioterapeuta sensível que está ao lado da Bruna Petito desde o início da criação do método é o responsável pelas lindas imagens, que hoje são referência do Inner Balance. Os acessórios desenvolvidos através de muito estudo e pesquisa auxiliam os alunos a se abrirem para as sensações internas e exteriorizá-las a partir do gesto restabelecendo a  relação com o próprio corpo e o reencontro com a expressividade do mesmo.    Bibliografia e obras consultadas Livros  BOIS Danis. Sujeito sensível e renovação do eu – As contribuições da Fasciaterapia e da Somato-psicopedagogia. São Paulo: Centro Universitário São Camilo e Paulos editorial, 2008. MATURANA R. Humberto; VARELA; J. Francisco. A árvore do conhecimento – as bases biológicas da compreensão humana. Palas Athena editora,2019.   Artigos: Adriana Wagner; Claudete Bonatto Reichert – Considerações sobre a autonomia na contemporaneidade www.revispsi.uerj.br/v7n3/artigos/html/v7n3a04.htm   René Armand Dentz – Corporeidade e subjetividade em Merleau-Ponty  https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php  

INNER SENSE

A voz: uma extensão do Corpo

Escrito por Constância Matos Como facilitador/educador do movimento, você observa sua voz?  Em algum momento parou para prestar atenção ao som e ao desenho dela no espaço? Não me refiro a voz que você acha que poderia ter, mas a sua voz com espaço para expressividade, como ferramenta para tocar o seu aluno. Como sua voz chega ao aluno durante uma sessão de trabalho corporal? Como você tem cuidado de sua voz, esta que é também um de seus instrumentos de trabalho? Quais os cuidados que podemos ter a fim de que nossa voz falada seja catalisadora de uma agradável experiência corpo/movimento para quem conduzimos no exercício do autoconhecimento, a partir do mover o corpo no espaço/mundo? Será que como facilitadores/educadores do movimento estamos cientes da importância da nossa voz falada; será que temos consciência de que nossa voz falada não está separada da expressividade?  Esta edição do nosso caderno corporal convida você a pensar a voz como uma extensão do corpo. A voz faz parte da nossa identidade e sabemos que existem outras possibilidades de nos comunicarmos como por exemplo: pelo olhar, pelos gestos, pela expressão corporal, pela expressão facial, mas a nossa voz é responsável por uma porcentagem muito grande das informações que trocamos com nossos interlocutores. Alguns estudiosos defendem o pensamento de que a nossa fala se desenvolveu para preservação da nossa espécie. (Cohen, 2015 p. 173) A partir da  nossa voz é possível notar disponibilidade, segurança, flexibilidade, atenção, cuidado, estado de humor ou seja, os nossos sentimentos e emoções são expressos em nossa voz, por esta razão começaremos o nosso passeio pelas estruturas básicas do mecanismo vocal pela faringe, que segundo a criadora do método Body Mind Centering, Bonnie Cohen, é o continuum da expressão e comunicação; a Educadora Somática refere-se a faringe como o nosso “self intuitivo”, como um instrumento da expressão humana.  A faringe é o nosso instrumento de expressão – de comunicação e relacionamento entre nós e os outros, do nosso self intuitivo e inteligente mais profundo com o conhecimento que está fora da nossa experiência. Cada um de nós tende a enfatizar diferentes humores ou modos de comunicação, tendo acesso automático a alguns ou dificuldade ou desconforto para expressar outros. Algumas pessoas se sentem mais confortáveis na faringe inferior, que é mais guiada pela percepção cinestésica interior. Outras são mais expressivas na faringe média, que é mais governada pela percepção auditiva externa e pela interação social. Outras ainda focalizam sua expressão predominantemente na faringe superior, com atividade mais visual e intelectual. A extensão total de tons expressos se aprofundará quando acentuarmos a laringe inferior e subirá quando focalizarmos mais alto na faringe. (Cohen, 2015 p.170) Além de estar relacionada à expressividade, a faringe é responsável pela produção e escala das vogais e também pela ressonância. Faz parte do sistema digestório/respiratório e é composta por três cavidades: a nasofaringe, que está localizada atrás do nariz, a orofaringe, localizada atrás da boca na parte de trás da garganta e a laringofaringe, localizada atrás da base da língua, acima da laringe e do esôfago. A Laringe é um componente do sistema respiratório vocal e é responsável pela altura e intensidade da voz, mas a sua função principal está relacionada à proteção das vias inferiores, ela se encarrega de que nenhum líquido ou alimento seja aspirado e chegue aos nossos pulmões. Se na faringe está localizado o nosso “self intuitivo” é na laringe que damos intensidade à expressividade deste “self”. É nas cavidades da laringe que as vogais são modificadas para dar o tom das nossas emoções. Uma curiosidade da laringe é que ela começa a descer, alongar-se a partir do nascimento e aos seis meses já não é possível para um bebê engolir e respirar ao mesmo tempo. Na vida adulta a laringe se encontra anatomicamente alongada favorecendo a nossa linguagem vocal.  É na laringe que estão situadas as nossas pregas vocais. As pregas vocais também conhecidas como cordas vocais se apresentam como dois lábios horizontais localizados na laringe. A produção da voz acontece graças à passagem do ar que vem dos pulmões durante o ato da expiração. O ar faz as pregas vocais vibrarem produzindo o som. O som produzido nas pregas vocais passa por um “alto-falante” natural formado pela faringe, boca e nariz. Estas estruturas são denominadas cavidades de ressonância. Os sons da fala são articulados na cavidade da boca, através de movimentos da língua, lábios, mandíbula, dentes e palato. Especialistas em trabalhos vocais do campo somático relacionam a boa emissão da voz, ao posicionamento do corpo espacialmente, a uma respiração eficiente, ao apoio do diafragma. Em seus estudos do “soma e voz declamada” o pesquisador e educador somático Frederick Matthias Alexander (1869-955), The Alexander Technique, chama esta organização de “uso consciente do corpo”. Na sua visão, a partir da auto-observação a inteligência corporal que é inata do ser humano, mas na maioria de nós adormecida, é estimulada auxiliando a mente a trabalhar organicamente com o corpo. O estado de auto-observação favorece um despertar corporal, o indivíduo começa a observar tensões e padrões desnecessários, o que proporciona um direcionamento do corpo no espaço favorecendo a qualidade da emissão da voz. O interesse de Alexander pelo estudo da voz/corpo somático, se deu quando ele passou a ter dificuldades para declamar Shakespeare. Alexander era ator e sua voz era o seu instrumento de trabalho, portanto sua carreira estava ameaçada. Procurou por ajuda, mas os especialistas da época não conseguiram ajudá-lo e assim começou o trabalho por si mesmo. Alexander se pôs em frente de um espelho para realizar os ensaios, foi então que descobriu que ao declamar puxava a cabeça para trás e para baixo, apertando a garganta e comprimindo desta forma suas cordas vocais. Descobriu que ao inibir esse padrão, direcionando a cabeça para cima e para frente de maneira que ela descansasse sobre a coluna poderia andar e falar livremente pelo simples equilibrar da sua cabeça. A experiência de Alexander nos mostra o quanto estar cinestesicamente consciente do nosso corpo favorece a