INNER SENSE

Como domar o Elefante

Escrito por Constância Matos “A mudança de hábitos é um processo que requer conhecimento de si mesmo, estratégias e resiliência” Queridos leitores, estamos a quatro dias do final de mais um ano, 2021 está indo, um ano de muitos desafios, mas certamente de muito aprendizado. É de costume nesta época do ano fazermos uma  lista com promessas para o novo ano e se observarmos bem a maioria dos itens listados veremos que tem a ver com hábitos/ comportamentos que gostaríamos de adquirir ou mudar em nossas vidas; aprender um idioma, comer mais saudável, deixar de fumar, ter uma rotina de exercícios diários são  itens que estão no topo desta  lista. Pesquisando sobre o assunto para esta edição do caderno encontrei duas abordagens sobre o assunto bem interessantes que compartilho com vocês.  A primeira abordagem é do psicólogo americano Jonathan Haidt, que lança mão da metáfora do elefante e do seu domador para descrever a nossa relação com a aquisição e manutenção de  novos hábitos. Na história um domador tenta controlar um elefante enquanto trilham um caminho pela selva. A personagem elefante corresponde ao nosso lado irracional/inconsciente, que é grande, forte e poderoso; já a personagem do domador seria nosso lado racional/consciente, menor, mais frágil e que precisa de estratégias para domar a vontade do animal de sair correndo pela selva.  Segundo Haidt, o domador sentado sobre o lombo do elefante segura as rédeas e parece  liderar, mas o seu controle é precário, o seu tamanho e proporção em relação ao outro o deixa em desvantagem. Assim sendo, sempre que o elefante e o domador discordam sobre uma direção a ser tomada, o último acaba perdendo. A personagem elefante da metáfora, nosso lado irracional deseja tudo para agora, não lhe interessa o processo,  se frustra, sai correndo pela selva quando o domador não  está de rédeas firmes. O elefante se apresenta quando sabemos que temos que estudar para uma apresentação importante, preparar aulas, preparar-nos mental e corporalmente para nosso dia, mas preferimos usar o tempo fazendo qualquer outra atividade menos o que realmente é pertinente. O nosso  elefante tem um forte apego às coisas costumeiras, pois sabe que o novo requer habilidades que não domina o que exigirá tempo, dedicação e  mais atenção para executá-las.  O domador, nosso lado racional  se não munido de autoconhecimento e estratégias, cede a irracionalidade do elefante e ao fazê-lo se enreda em um padrão de frustração, insegurança, incompetência e confusão, sentimentos que resultam em um “self”encolhido. Me apoio em uma citação de keleman para demonstrar a destrutividade do padrão de frustração para o nosso “self”: O predomínio crescente de atitudes de frustração nos conduz a níveis descendentes de organização, que indicam uma flexibilidade cada vez menor para continuar crescendo, uma habilidade corporal cada vez menor para continuar reformando o self que se é ”[…] velhos padrões da infância, como a teimosia e a dependência, que podem se tornar mais profundamente entranhados a cada repetição racionalizada. Tornamo-nos repetitivos, tediosos e entediados. (Kaleman, p.43) Podemos considerar  que adquirir novos hábitos têm pouca ou quase nenhuma relação com força de vontade, e sim de conhecer a si mesmo, o ambiente e ter estratégias para guiar bem o nosso “elefante”.  A imagem do domador montado sobre um elefante desgovernado  nos faz refletir sobre a importância do autoconhecimento, da  disciplina e da organização para construção de um “self” confiante. Domar o nosso elefante tem o poder de ressignificar a  relação conosco e com o mundo.  A segunda  abordagem explica a contribuição da EAM, (experiência da aprendizagem mediada), para a aquisição de novos hábitos. A EAM se dá por intermédio da interação entre sujeitos, estabelece-se uma relação de ensino/aprendizagem, onde entre o sujeito e a realidade há outra pessoa – um mediador – que utiliza critérios para enriquecer e tornar esta relação mais produtiva. Na EAM o sujeito é encorajado a comparar, coletar, classificar e dar significado à experiência atual em relação à experiência anterior, o que colabora para  uma forma ativa de experiência no mundo. Durante o estudo, os autores concluíram que ações repetidas podem até proporcionar prazer, mas não há transferência do aprendizado para o cotidiano; observa-se aqui a similaridade com a metodologia de trabalho do Inner Balance. Quando desenhou o Método, Bruna Petito estruturou-o  a  fim de que o aluno/aprendiz  por meio da mediação do instrutor/facilitador conseguisse transferir as descobertas de suas possibilidades de movimento para suas atividades na vida. Assim como os  autores do estudo, acreditamos que ações repetidas  não acompanhadas de processos de pensamento e entendimento, inviabilizam a possibilidade da pessoa se organizar no mundo, não produzem aprendizado e consequentemente não serão transformadas em hábitos. É necessário no  percurso da aquisição do novo hábito a atribuição de  significado; é fundamental que o aluno/aprendiz  saiba  por que está fazendo tal coisa, é preciso  o  envolvimento emocional do aprendiz com a experiência, pois deste modo o aprendizado será utilizado em outras situações e momentos da vida.   “O  significado reflete valores, costumes e normas que regulam e moldam comportamentos compartilhados e herdados. Porém, acima de qualquer experiência cultural, a qualidade mediada de significado é expressa pela mudança que traz no aprendizado, por fazer com que seja entendido, fortalecido, integrado e, em análise final, internalizado como sistema de princípios cuja força guiadora está além do conteúdo específico no qual foi adquirido”.  O que interessa nesta maneira de organizar  a aprendizagem é encorajar  o aluno/aprendiz a criar alterações estruturais em si mesmo, para que ele seja capaz de transferir  o aprendizado a outros campos da sua excursão pelo mundo e assim encontrar um equilíbrio e conduzir com serenidade e firmeza o seu elefante.  inspirações para domar o elefante:  Trace objetivos e sempre  comece pelos objetivos de curto prazo. Segundo o estudo, objetivos de curto prazo levam a vitórias pequenas, estas pequenas vitórias motivam as pessoas para conquistarem novas vitórias, ou seja, são as pequenas mudanças que podem fazer com que desejemos traçar e alcançar grandes mudanças.  O entorno, o ambiente têm  muita influência no nosso comportamento. Cercar-se de companheiros de

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Dançar consigo mesmo

Escrito por Constância Matos Tomar consciência do próprio corpo é ter acesso ao ser inteiro.  Therèse Bertherat  Dezembro é um mês que nos convida a observarmo-nos como sujeitos em um mundo que está em constante movimento. Um filme vai passando pela cabeça sobre o ano que passou, outros passados e nos perguntamos da nossa relação com o futuro que já é amanhã,  comportamento que sem percebermos nos distancia do momento presente. Querido leitor, não abdico aqui da importância de olharmos para o passado e traçarmos objetivamente as metas futuras, e sim questiono permitir que o nosso  corpo se prenda há dois tempos que nos impedem a alegria de viver o aqui e o agora. Viver no passado e no futuro  nos faz inconscientes da nossa presença, condição essencial para a plenitude do relacionamento conosco, com os outros e com o mundo.  Quando pensamos a ação “Ser Presente” da rede Inner, ação que estará acontecendo até o dia 21 de dezembro, o nosso objetivo era uma espécie de chamamento à reconexão da nossa casa/corpo com o “aqui e o agora”, um  convite para  organizar-se no tempo presente a fim de  possibilitar a  dança consigo mesmo,  uma provocação ao encontro com o deleite do presente de reconhecer-se e sentir-se efetivamente sujeito  no próprio corpo a partir do movimento consciente.  Acreditamos que por meio do movimento consciente podemos acessar o nosso interno, mergulhar nas nossas emoções e sentimentos, experimentar sensações na casa/corpo que potencializa a organização dos nossos pensamentos e ações. Cremos que mover o corpo nos torna mais críticos e politizados fortalecendo pensamentos que reorientam nossa forma de ver e estar no mundo.  Sabemos que o movimento para mudança de padrões é um caminho que exige disciplina e um olhar generoso para com o próprio corpo; por essa razão é que a  nossa rede está em constante estudo e experimento corporal para acolher os futuros alunos/aprendizes, que chegam até nós com o objetivo de organizar-se no mundo a partir do movimento somático.  A bailarina e estudiosa do corpo Ádia Anselmi em seu livro “O Tempo da flor de florescer” diz que quando começamos uma uma prática corporal é natural que apareçam limites e que reconhecer os limites e as possibilidades do próprio corpo nos direciona a um mergulho  nas nossas águas rasas e profundas; mergulho que ao fim nos proporcionará a alegria de um corpo vivo e presente.  Quando começamos uma prática corporal, logo aparecem nossos, e, sem reconhecê-los, é impossível encontrarmos a liberdade no movimento. […] conhecer os limites é essencial no caminho de consciência corporal; é experimentando-os que movemos”. P.76 A autora nos lembra que para haver uma “dança consigo mesmo” é necessário, viver o presente, “Estar” em nós direciona-nos a uma vida com mais plenitude e generosidade para sermos melhores pessoas para nós mesmos e para os outros. Estar atentos e presentes enche o coração de gratitude e contentamento! Que possamos todos dançar a alegria do “Ser presente”.   Beijos no coração.  Bibliografia consultada  ANSELMI Ádia. O tempo da flor florescer. 1. ed. Amélie Editorial. São Paulo, 2021 Cohen Monja. Aprenda a viver o agora. You tube  https://youtu.be/lEbmZ-X8C9U. 2019.