INNER SENSE

Ser Corpo no mundo

“A alma respira através do corpo, e o sofrimento, quer comece no corpo ou numa imagem mental, acontece na carne”.  António Damásio Corpo, substantivo que vem do latim corpus e corporis, da família corpulência e incorporar.  O que tem extensão e é perceptível pelos sentidos. O conjunto dos sistemas orgânicos que constituem um ser vivo; o que preenche espaço, que tem forma. O corpo, seu corpo, o nosso corpo no coletivo e na interação com o meio. Corpo muitas vezes descrito e analisado, mas separado da experiência corpórea, do que ele apresenta como possibilidade de ser quando em ação no mundo. Muito se pesquisa o Corpo e o lugar ocupado por ele, corpo que na metodologia do Inner Balance é entendido como suporte físico da nossa existência, possibilitador do habitar, do sentir, do perceber e agir no mundo. Corpo que muitos dizem ter dificuldade de reconhecer, mas que é lembrado mediante um torcicolo ou uma lancinante fascite plantar que o obriga a se organizar para seguir na realização das demandas diárias. Corpo que foi fragmentado/segmentado para facilitar os estudos da medicina tradicional, assunto não objeto de reflexão do texto desta edição. Neste Caderno, convidamos você a se debruçar conosco na reflexão que o psicólogo, psicomotricista, autor e educador André Trindade traz sobre os poucos estímulos do corpo dos bebês/ crianças durante a pandemia e do modelo “pensamento sentado” adotado pelas escolas tradicionais que teimam em submeter o corpo adolescente por cinco, seis horas numa determinada posição. André Trindade que nos dará a honra da sua presença compondo a mesa redonda da Ação Troca Sensível e Solidária de 2022, onde será abordado o tema “SER CORPO NO MUNDO”. O que é ser um Corpo no Mundo para você? Que corpo é este? É um corpo sensibilizado ou endurecido pelas experiências pessoais, interpessoais, ambientais pelas quais está sendo atravessado? Como este corpo reage diante de tantos estímulos diários e como ele  se organiza interno e externamente? Quais são as reais necessidades deste corpo durante/pós pandemia do covid? Pandemia que ainda está viva, que nos ronda; será que podemos falar com convicção de um corpo pós pandemia? Ou estaríamos sendo mais generosos falando de um corpo que ainda atravessa essa (condição de insalubridade) na qual ele ainda está exposto? Corpo adulto, corpo adolecente, corpo infantil, corpo bebê? Em seu texto André fala da necessidade de incentivar as crianças a trocarem, interagirem entre si, mais do que enchê-las com conteúdos acadêmicos perdidos e externaliza que nestes trinta anos de observação de bebês e suas famílias foi surpreendido pela pandemia de Covid-19. Ele achava que os bebês estariam protegidos no ninho formado pela família e a sala desenhada para o brincar, mas se enganou. O impacto foi grande também para os pequenos; diz ter encontrado bebês subestimulados, com alguns atrasos no desenvolvimento motor, menos interessados pelo mundo ao redor e mais passivos. Ele diz ter ressignificado o entendimento do quanto “o corpo com o corpo”, expressão usada pelo autor para falar da interação deste corpo com o mundo, é fundamental para estes pequenos seres. André segue na observação nos levando ao mundo infantil onde ele fala deste corpo da infância submetido ao enrijecido pensamento sentado das escolas tradicionais, que impedem o livre existir destes corpos em idade de interagirem uns com os outros e de despertarem a sua motricidade e sugere que nesta idade a criança deveria chegar e fazer atividades livres como canto, danças e jogos cooperativos. O pensamento sentado é um modelo que aprisiona e corrobora para que estas crianças se transformem em adultos sedentários com corpos adormecidos e ausentes de si mesmos; corpos sujeitos a se reconhecerem enquanto corpos apenas nas crises álgicas e psíquicas.  Estão sendo esses corpos educados para percepção de si mesmos e para se perceberem integrantes de um todo, de um coletivo? O eu e o outro formam a sociedade, o ambiente em que vivemos, nosso caldo sócio-cultural. Corpo, mente e meio ambiente = a comportamentos = a um complexo sistema de integração mental que se modifica pelos estímulos recebidos da grande teia relacional. Bebês, crianças, adolescentes e adultos, todos corpos sujeitos, tendo que se haver com as demandas destas diferentes fases da vida; todos corpos que precisam ser aguçados a partir da curiosidade e prazer da escuta sensível do próprio corpo. Você como profissional facilitador o que pensa da relação, movimento x escuta interna x interação, com o meio ambiente? Você considera ser possível a partir da exploração dos sentidos e da percepção, afinar a escuta para o mundo?  A Rede Inner suscita discussões de saberes e olhares para uma sociedade mais democrática e como consequência, mais saudável e feliz. Gratidão por nos acompanhar! Referências consultadas  BAITELLO, Junior Norval. O pensamento sentado – Sobre glúteos, cadeiras e imagens. São Paulo: Unisinos, 2ªed. 2017 DAMÁSIO, António. O erro de Descartes, emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Cia das letras, 2004 GREINER, Christine. O Corpo – Pistas Para Estudos Indisciplinares. São Paulo: Annablume, 2a ed. 2005 Trindade André. Artigo: O corpo na volta às aulas https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/02/o-corpo-na-volta-as-aulas.shtml Na Web https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/corpo

INNER SENSE

Sobre Alice, ética e conhecer a si mesmo

“Gatinho de Cheshire” começou um pouco tímida, pois não sabia se ele gostaria do nome, mas ele abriu ainda mais o sorriso. Alice continuou:  “Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para sair daqui?” “Isso depende bastante de onde você quer chegar”, disse o Gato. “O lugar não importa muito…”, disse Alice. “Então não importa o caminho que você vai tomar”, disse o Gato. (p. 81) Certamente você já experimentou um coração dividido ao receber uma proposta, ou realizar determinada ação. Qual caminho tomar? Ir por este lado, ou por aquele? Pode ser que neste momento você tenha também se perguntando o quanto isto impactaria na sua vida e na vida das pessoas a sua volta. Já parou para pensar que todos os dias estamos em contato com situações onde temos que pensar em como o nosso agir afeta o outro e a sociedade? Todos os dias estamos diante de situações que podem atestar ou não a nossa integridade. Todos os dias nos encontramos com a possibilidade de colocar o nosso caráter à prova, todos os dias temos a oportunidade de praticar a auto-observação. O ver a si mesmo está muito ligado com o caminho a ser tomado diante de situações que não nos parecem adequadas, por isso achamos interessante começar a reflexão desta edição com este clássico da literatura. Conforme o combinado, nesta edição do caderno trazemos como tema a ética, assunto que permeia as discussões acaloradas da atualidade, principalmente neste contexto de informações distorcidas que saltam todos os dias das telas da tv e dos nossos celulares.  A palavra Ética vem do grego “Ethos” que significa modo de ser, jeito de ser, caráter; uma espécie de filosofia da moral. Mas, e a moral, o que é ? A Moral tem sua origem no latim, de “mores”, que significa costumes; um conjunto de regras e condutas estabelecidas por uma sociedade, de acordo com sua educação, tradição e cotidiano. Observamos desta forma que a ética e a moral andam de mão dadas. Podemos entender a ética como a responsabilidade que temos para com a sociedade a partir das nossas práticas individuais, profissionais e coletivas. A ética tem a ver com a valorização das relações humanas, o respeito aos valores que sustentam a comunidade e a reflexão permanente sobre estes lugares. Vemos desta forma o quanto a ética está estreitamente em conexão com o conhecer a si mesmo, como o quanto sabemos de nós, da vigília constante diante do que parece inofensivo, mas nos afasta dos princípios do que é ético e do que é moral. Quando nos conhecemos sabemos as direções a serem tomadas, não sairemos a perguntar para o gato o que já temos com clareza dentro de nós. Aristóteles e Immanuel Kant, foram pensadores que em seus discursos falavam da ética como virtude humana. O primeiro a propunha como uma condição para uma vida feliz, a felicidade não como prazer físico, mas a harmonização da vida com a ética. Kant acreditava que antes de uma pessoa realizar qualquer ato, deveria se perguntar: “isso fará bem para o coletivo?” O pensamento do dever cívico, para este filósofo, derruba a arrogância e o amor próprio, fazendo o indivíduo mais comprometido com a moral e com a coletividade. A ética, hoje, é compreendida como parte da Filosofia, cuja teoria estuda o comportamento moral e relaciona a moral como uma prática.  Pensadores brasileiros contemporâneos como Cortella, e Clóvis de Barros, a entendem como “um exercício diário da conduta humana, como uma espécie de inteligência a ser compartilhada a serviço da convivência. Para estes dois pensadores brasileiros a sociedade precisa ser justa para que todos tenham as mesmas oportunidades, a sociedade precisa ser livre de maneira que a vontade educada torne a liberdade responsável, a sociedade essencialmente precisa ser solidária onde haja um compromisso com o bem pessoal e o bem comum. Você concorda com eles? Como a partir do conhecimento de si mesmo, dos seus movimentos como profissional e ser presente no mundo e na sua comunidade, você vê a ética? Você pensa em como suas ações reverberam nos lugares por onde você transita? Você acha que podemos aprender com aqueles que buscaram ser éticos em vários momentos da humanidade e aplicar estes ensinamentos nos dias de hoje? Você deve estar pensando que os problemas daquela época não são os mesmos do dia de hoje; se sim você não está errado. Os problemas, os contextos variam, mas o ser humano que está sujeito à eles segue sendo o mesmo nas diferentes épocas da história.” A Rede Inner é pautada pela ética e suscita discussões de saberes e olhares para uma sociedade mais democrática e como consequência, mais saudável e feliz. Gratidão por nos acompanhar!   Referências consultadas https://www.brasilescola.uol.com.br   DIFERENÇA ENTRE ÉTICA E MORAL.  https://psicoativo.com/2017/09/diferencas-etica-aristoteles-etica-kant. Carroll, Lewis – Alice no País das Maravilhas https://www.objetivo.br/arquivos/livros/alice_no_pais_das_maravilhas.pdf Cortella, Mario Sergio – Alice no país das maravilhas  https://youtu.be/dpp3XFsTXnw Barros Filho, Clóvis de Moral, Ética e Diversidade Cultural. https://youtu.be/BM9x8HdElGs