INNER SENSE

Um mergulho na subjetividade

“A grandeza do homem consiste em que ele é uma ponte e não um fim”. Friedrich Nietzsche CADERNO CORPORAL UM MERGULHO NA SUBJETIVIDADE Olá Inners, bem vindos à nossa 27ª edição do Caderno Corporal onde iremos dar sequência e nos permitiremos ser atravessados pelos elementos que constituem a pesquisa científica, assunto que começamos a abordar na 25ª edição do nosso caderno. Certamente vocês perceberam que quando se fala em pesquisa científica um mundo de possibilidades se apresenta diante de nós. Os convidamos a ver este mundo de possibilidades como provocações, como um convite para mergulhar em um lugar inseparável da pesquisa: a subjetividade da pesquisa, assunto que acreditamos pertinentes para nós enquanto instrutores de uma rede onde residem múltiplos panoramas, múltiplos olhares. No dicionário a palavra M.E.R.G.U.L.H.A.R: quando bitransitivo é fazer entrar, estar imerso, parcial ou totalmente em algo, na água ou um líquido qualquer. Quando intransitivo e pronominal significa afundar-se inteiramente em água, mas a palavra M.E.R.G.U.L.H.A.R pode também significar: aprofundar-se, deixar-se entrar, afundar e submergir. A potência metafórica de um mergulho está relacionada a uma curiosidade e a coragem de se realizar o movimento. No M.E.R.G.U.L.H.A.R, por outro lado, existe a possibilidade de somente submergir que é diferente, já que o submergir pode ser parcial ou total, mesmo total pode não ter a característica de inteiro, completo.  Adicionemos a palavra M.E.R.G.U.L.H.O, à palavra S.U.B.J.E.T.I.V.I.D.A.D.E. e assim começamos de fato o desenvolvimento do que viemos abordar neste caderno O M.E.R.G.U.L.H.O na subjetividade, que é entendido como o espaço íntimo do indivíduo, ou seja, como ele “instala” a sua opinião ao que é dito com o qual ele se relaciona com o mundo. Como embasamento para esta reflexão introduzimos aqui a Teoria da Subjetividade de González Rey – Epistemologia Qualitativa construtiva-interpretativa, que buscou compreender a subjetividade reconhecendo o valor da história e da cultura, possibilitando, com isso, olhar os processos singulares do indivíduo, modelo que rompe com a enraizada investigação empírica(estímulo-resposta) e quantitativa. Quando se trata de pesquisas com seres humanos, devemos tratar o “sujeito” e não o “objeto” o que torna determinante uma escuta e observação sensível considerando os aspectos sociais, ambientais e antropológicos. Outra questão que deve ser levada em conta de acordo com González Rey é o afeto. Segundo o pesquisador, experiências afetivas do sujeito estão diretamente conectadas à subjetividade. As experiências afetivas revelam como os indivíduos são afetados pelos acontecimentos, como eles estabelecem e constroem significados e sentidos através das vivências enquanto sujeitos no mundo.  Esta dimensão afetiva é um dos combustíveis do método no processo de investigação dos instrutores e destes com seus alunos/pacientes.  No Inner a dimensão afetiva está tão presente quanto a dimensão cognitiva motora. A compreensão da indissociabilidade da afetividade nas práticas nos permite compreender que esta dimensão é um fator determinante da relação sujeito/mundo. O Inner acredita que a afetividade, as emoções, são fatores primordiais para estabelecer uma relação de aproximação entre sujeito e experiência da prática/sujeito pesquisador e objeto da pesquisa. O Termo M.E.R.G.U.L.H.O que trouxemos tem o objetivo de nos lembrar que somos afeto e somos afetados, e que seria interessante fazer o exercício de observarmos a fim de um encontro com o que nos dá vontade de investigar com profundidade. Lembrando que a pesquisa não é somente esta de submissão acadêmica, talvez este não seja um lugar que você deseja estar e tudo bem. A investigação, o M.E.R.G.U.L.H.O pode ser diário, como por exemplo um olhar com mais gentileza de você para consigo mesmo, para com o seu aluno/paciente e não menos importante do aluno com seu corpo.  Consideramos o olhar sensível para si mesmo, o autoconhecimento a partir dos movimentos primordiais para o estabelecimento das relações do sujeito com a sua autonomia, com a natureza e seu self.  A Rede Inner é um espaço aberto para novos olhares, saberes, buscando sempre conexões que nos enriquecem enquanto elementos integrantes da natureza e do universo. Até a próxima edição. Referências consultadas González-Rey, F. & Mitjánz, A. (2015). Una epistemología para el estudio de la subjetividad: Sus implicaciones metodológicas. Psicoperspectivas.  10.5027/PSICOPERSPECTIVAS-VOL15- ISSUE1-FULLTEXT-667 HARK Helmut. Léxico dos Conceitos Junguianos Fundamentais. A partir dos originais de  C .G. Jung. edições Loyola, São Paulo. 1988 Rossato Maristela e Martínez Albertina. Desenvolvimento da subjetividade: análise de histórias de superação das dificuldades de aprendizagem – Universidade de Brasília – DF https://www.scielo.br/j/pee/a/jrCGPf3rGx5swWqmYf8hsdt/?format=pdf&lang=pt#:~:text=A%20Teoria%20da%20Subjetividade%20de,estudante%20em%20seus%20processos%20singulares.    

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Subjetividade – uma âncora passível de encontrar vários mares

“ Uma parte de subjetividade jamais estará ausente de qualquer pesquisa, até mesmo em ciências naturais J. Feldman Olá, sejam muito bem vindos! Nesta 26ª edição continuaremos a abordar o tema da pesquisa no campo prático-teórico. Na edição anterior trouxemos uma reflexão sobre o olhar investigativo, do pesquisador que existe em nós. A epistemologia da ciência, a ciência da ciência, a filosofia da ciência, nos levam por caminhos muito abrangentes e ao mesmo tempo fascinantes. É por meio dela que podemos traçar modelos de pesquisa científica e suas “validações”. Hoje trazemos aqui um processo de construção da informação; a pesquisa qualitativa e a subjetividade. A Teoria da Subjetividade, uma de nossas referências para construção deste texto nos mostra este lugar (do subjetivo) fundamental para o sujeito-terapeuta que pesquisa. É muito interessante e rico observar a partir de uma linha do tempo um percurso trilhado seja ele nosso, ou de um método como o Inner Balance que já conta com 20 anos de existência. O Inner Balance está em franca expansão e desde a sua concepção, o pensamento de que a prática, a teoria e a pesquisa não estão separadas de si e do sujeito que investiga o corpo-ambiente é o seu norte. Sob a luz de um pesquisador do corpo, do qual encontramos um pensamento aproximado, convidamos você para mais um caderno corporal. Danis Bois em uma de suas teses, defende que não há pesquisa sem a subjetividade do sujeito pesquisador. Ele fala de um paradigma que ainda nos dias de hoje persiste na academia; a de que o sujeito pesquisador deve abster-se de sua subjetividade. Para este isto seria um non-sense e diz ainda que isto seria afastar o pesquisador de sua própria humanidade, seria perder a riqueza que a subjetividade daria a própria pesquisa. Ao invés de afastar a subjetividade, o interessante por segundo Bois seria lançar mão, servir-se de uma “neutralidade ativa” denominada por ele como “o deixar vir a si”. Trata-se de, por mais envolvido que se esteja em uma pesquisa, o sujeito pesquisador sempre estará permeado pela presença de si, do outro corpo, do ambiente, permitindo que parte da consciência esteja aberta para a experiência do que se produzirá durante a investigação.(p.164). O pensamento da metodologia se aproxima do pensamento Bois no sentido de que o Inner Balance entende a subjetividade do sujeito pesquisador como uma âncora, passível de ser lançada em diferentes mares, mas algo importante para o processo de pesquisa do sujeito dentro do vasto campo disponibilizado pelo método. Nomeado terapeuta-pesquisador, este profissional, hoje muito mais aceito no campo da pesquisa científica, apesar de ser considerado paradoxal, está em campo e também na pesquisa. Talvez haja uma maior resistência em áreas mais tradicionais, no entanto, o avanço de estudos e pesquisa nas áreas da neurofisiologia e neurociência, neurofilosofia e neurofenomenologia, tem trazido um novo olhar sobre o terapeuta-pesquisador. Nós, profissionais do movimento, devemos aproveitar este momento de abertura que escancara uma janela de possibilidades, no qual poderemos a partir da nossa experiência profissional levar casos que presenciamos em nossas práticas para serem discutidos, degustados e comprovados cientificamente. O movimento de se distanciar e de se aproximar da sua prática, se deixar de lado, descentralizar, onde se duplica esse procedimento enquanto terapeuta-pesquisador não é fácil e precisa ser objeto de muita reflexão a fim de que o sujeito não renegue a sua subjetividade e sim tome partido dela ( Bois, p.158). Existem hoje campos da pesquisa que direcionam os interessados na área da pesquisa teórica e prática para um lugar de desenvolvimento dessa expertise. Acreditamos que tudo muda o tempo todo, cremos na impermanência das coisas, não podemos permitir que se torne estático o que é conhecido por sua dinamicidade e multiplicidade: o ser humano. O objetivo deste Caderno além de informar é o de fomentar dúvidas, questões e possíveis discussões. A Rede Inner é um espaço aberto para novos olhares, saberes, buscando sempre conexões que nos enriquecam enquanto elementos integrantes da natureza e do universo. Até a próxima e aproveitem para conhecer as referências que nos inspiraram para a escrita desta edição. Referências consultadas Peres Vannúzia – Pesquisa qualitativa e subjetividade: os processos de construção da informação – Rev. bras. psicodrama vol.27 no.1 São Paulo jan./jun. 2019 – http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-53932019000100016 (acesso em 01 de agosto de 2022) Martin Marilene – Estimulação Espacial Dinâmica da Fáscia – EEDiF – https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/46671?show=full ( acesso em 01 de agosto de 2022) Outras Mídias Como mudar a sua mente – Documentário da Netflix https://sechat.com.br/netflix-como-mudar-sua-mente-2022/ https://www.netflix.com/br/title/80229847?s=a&trkid=13747225&t=cp&vlang=pt&clip=81593887