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Você tem fome de quê? 

“Não devemos parar nossas explorações, e o final de todas as explorações será a chegada ao ponto onde começamos a ver o lugar pela primeira vez”.  Stephen Covey   Um mestre Hindú em uma roda de conversa onde todos estavam em busca de aprenderem sobre como viver melhor e sobre como realizar as coisas da vida, pergunta: você já sentiu fome? As pessoas se entreolharam e perguntaram — o que tem essa pergunta a ver com o que viemos fazer aqui? O mestre continua… um dia, dois, três, quatro dias em jejum leva-nos a gastar energia com coisas que verdadeiramente importam. Segundo este mestre, uma vez com fome valorizamos o alimento que está na nossa frente; torna-se claro para nós a importância deste alimento e assim o degustaremos com sabedoria percebendo a cor, o sabor e as qualidades nutritivas deste alimento. Mas, se ao contrário, se durante todo tempo estamos a comer qualquer coisa, petiscando, nos empanturramos e corremos o risco de passar do ponto, de ficarmos cheios, mas sem nutrição e também não valorizarmos o alimento que nos é oferecido. O mestre fez a correlação da comida com os desejos e aspirações que nos movem, onde depositamos nossas energias de trabalho e o movimento da vida. Muitas vezes em função do corre corre diário não temos tempo para fazer nada. O mundo o tempo todo nos convida a petiscar; se pudéssemos fazer jejum de informações, talvez pudéssemos ser menos influenciados e mais autênticos com os nossos quereres. O quanto você deseja algo de fato? O quanto tem petiscado em lugares que tiram o foco do que realmente importa? Você está gordo de tantas informações? O que tem feito com esta gordura? Ela transforma a sua vida e a dos outros? Como colocar em prática as informações recebidas? Como está o seu tempo para o exercício da criatividade e a fruição? Você sabia que dentro da rede tem espaço para você pensar e desenvolver suas ideias e desejos? Desenvolvido pela Inner de base Giovanna Marqueli, o programa de estágio Inn Formação foi pensado para auxiliar você instrutor a descobrir seu espaço de atuação. O que te inspira, o que você tem vontade de pesquisar e colocar no mundo?  Você já parou para pensar que muitas horas da vida são dedicadas aos afazeres laborais? Assim sendo, não seria interessante e motivador passar estas horas fazendo o que se gosta? Então deixamos para você algumas perguntas para reflexão: o que te fez escolher ser um profissional do movimento somático? E como profissional do movimento, você é aquele que se debruça nos livros em busca de respostas para questões que surgem na sala de trabalho ou é aquele que vai experienciar, observar? É conservador ou revolucionário no seu modo de propor o movimento? Você consegue reconhecer no seu processo a sua forma de atuar no mundo e profissionalmente? Saber desses lugares nos auxilia a dar continuidade aos processos de realização profissional. Uma dica interessante para você descobrir o que te inspira é buscar na memória o que gostava de fazer quando criança. Nesta fase do livre brincar experimentamos com liberdade nossos dons inatos; revisitar a infância pode ser um lugar de potência para redirecionar desejos e aspirações.  O caderno corporal é um espaço de leitura criado para despertar reflexões acerca do corpo, sobre o universo que é o ser humano, a sua relação com o outro, com a sociedade, com o trabalho e o estar no mundo.   Gratidão por nos acompanhar!    Referências consultadas https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4134716/mod_resource/content/1/Os_7_Ha%CC%81bitos_das_Pessoas_Altamente_Eficazes-Stephen_Covey.pdf https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/58/o/Por_Que_Fazemos_O_Que_Fazemos__-_Mario_Sergio_Cortella.pdf https://youtu.be/XcXoASjAcBk

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Você não é um robô – Um estilo de vida além do pensamento cartesiano

Escrito por Constância Matos “Trazer a  mente para o nosso corpo nos torna indivíduos mais felizes e mais inteiros”. Cris Fáscia                                                                                                                   “Penso, logo existo”. A dicotomia cartesiana criou  e manteve um abismo entre corpo e mente por muito tempo. Este pensamento foi um incômodo para muitos estudiosos entre eles, António Damásio, que em seu livro “O Erro de Descartes” contesta o pensamento concebido pelo filósofo francês autor da frase célebre que prega a máxima de que somos somente uma coisa pensante não levando em conta a nossa experiência enquanto seres que se  relacionam com o mundo externo. Damásio é o nosso convidado para tecer a reflexão desta edição do nosso caderno que  pretende falar da correlação sistema nervoso autônomo, emoções, sentimentos e a contribuição do movimento somático na melhora da qualidade de vida do sujeito a partir da construção do estado de um corpo presente. É certo que o nosso  pensamento pressupõe sim a nossa existência, mas também pressupõe a existência do mundo e do outro. A partir da observação de pacientes neurológicos, que o médico e neurocientista António Damásio defende a tese de  que o  nosso corpo e cérebro são indissociáveis e que funcionamos a partir de um grande circuito bioquímico e neural, o que nos faz portanto, organismos vivos e complexos. Para chegar perto de uma resposta para saber quem somos e por que somos faz-se necessário entender que o organismo humano possui uma estrutura miríade de componentes (damásio, 2006, p. 112) e que razão, sentimento, emoções e comportamento social andam juntos, já que os sentimentos e emoções são uma percepção direta do nossos estados corporais e constituem um elo essencial entre corpo e consciência. “Quando afirmo que o corpo e o cérebro formam um só organismo indissociável, não estou exagerando. De fato, estou simplificando demais. Considere que o cérebro recebe sinais não apenas do corpo mas, em alguns de seus setores, de partes de sua própria estrutura, as quais recebem sinais do corpo. O organismo constituído pela parceria cérebro-corpo interage com o ambiente em conjunto, não sendo a interação só do corpo ou só do cérebro. Porém, organismos complexos como os nossos fazem mais do que interagir, fazem mais do que gerar respostas externas espontâneas ou reativas que no seu conjunto são conhecidas como comportamento. Eles geram também respostas internas, algumas das quais constituem imagens (visuais, auditivas, somatossensoriais) que postulei como sendo a “base da mente”. (DAMÁSIO, p.114) Um esquema para melhor compreendermos o que Damásio quer nos dizer:  ⇒ cada músculo, articulação e órgão interno pode enviar sinais para o cérebro através dos nervos periféricos ⇒ estes sinais entram no cérebro no nível da medula espinhal ou do tronco cerebral ⇒ são transportados de estação a estação neural ⇒ levados até os córtices somatossensoriais no lobo parietal e na região insular ⇒ as substâncias químicas que surgem da atividade do corpo alcançam o cérebro por meio da corrente sanguínea influenciando o seu funcionamento, diretamente ou por estimulação de locais cerebrais  ⇒ o cérebro atua na direção oposta a partir dos nervos tendo como agentes o sistema nervoso autônomo ou visceral e o sistema músculo-esquelético voluntário ⇒ sinais para o sistema nervoso autônomo tem origem nas regiões primitivas (a amígdala, o cíngulo, o hipotálamo e o tronco cerebral) ⇒ sinais para o sistema músculo-esquelético têm origem nos córtices motores e núcleos motores subcorticais ⇒ cérebro atua também por meio de substâncias químicas (hormônios, transmissores e moduladores) que são liberadas na corrente sanguínea.  (Damásio, 2006. p.116). De acordo com  Damásio, o fato de um organismo possuir uma mente significa que ele pode formar representações neurais, o que tornaria as imagens manipuláveis, desta maneira influenciando o comportamento e como o ser humano vai organizando a sua sobrevivência. Possuímos padrões inatos para a nossa sobrevivência que são mantidos pelo tronco cerebral e pela hipotálamo. O hipotálamo tem papel importante na regulação das glândulas endócrinas e no funcionamento do nosso sistema imunológico. Esta regulação está relacionada com o tronco cerebral e é complementada por controles no sistema límbico. Vimos até aqui a complexidade que é o funcionamento da nossa anatomia e o funcionamento deste setor cerebral. Não é nossa intenção discutir esta complexidade, mas precisávamos chegar até o sistema límbico que tem lugar de importância no estabelecimento de impulsos e instintos e uma função especial no processamento das emoções e sentimentos. Com a ajuda do sistema límbico e do tronco cerebral é que  o hipotálamo regula o nosso meio interno. A vida depende da regulação destes processos que se excessivamente desregulados  levam o indivíduo à doença ou morte. Vale lembrar que os sinais químicos dos demais sistemas do corpo também são reguladores do hipotálamo. (Damásio, 2006,  p. 147) Emoções e sentimentos A emoção é um impulso neural que move um organismo para a ação. Etimologicamente, a palavra emoção provém do termo latino emotione = a movimento, ato de mover. Derivado tardio duma forma composta de duas palavras latinas: Ex = fora, e motio = movimento. As emoções podem ser primárias ou secundárias. As primárias são pré-organizadas e dependem da rede do sistema límbico, sendo a amígdala e o cíngulo suas principais personagens; podemos dizer que elas ativam um estado de corpo característico da emoção de medo, alterando o estado cognitivo de resposta. (Damásio, 2006,p.163). Podemos dizer que o mecanismo das emoções primárias não respondem ao conjunto de tudo que se relaciona a um comportamento emocional. As emoções secundárias encontram expressão a partir de imagens mentais organizadas num processo de pensamento. Envolve reflexão e respostas corporais a partir de um determinado contexto, situação e ambiente. As imagens invocadas podem ser ou não verbais. Registra-se mudanças expressivas no equilíbrio funcional do nosso corpo. Um exemplo das sensações provocadas por uma emoção secundária seria o encontro com um amigo que não vemos há muito tempo ou o recebimento de uma má notícia. Na primeira situação o coração acelera, a pele aquece, o rosto desenha uma expressão de alegria.. Na outra, a máscara de tristeza aparece, a pele empalidece, a boca pode ficar seca

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Dor: Re-Conhecendo para Buscar Estratégias de Trabalho

Escrito por Constância Matos Movo a perna esquerda de mau jeito E a cabeça do fêmur atrita com o osso da bacia Sofro um tranco E me ouço perguntar Aconteceu comigo ou com o meu osso? E outra pergunta Eu sou o meu osso? Ou sou somente a mente que a ele não se junta E outra, se osso não pergunta, quem pergunta? Alguém que não é osso, nem carne, que em mim habita. Alguém que nunca ouço A não ser quando no meu corpo um osso com outro osso atrita? (Acidente na sala, Ferreira Gullar) Querido leitor, antes de iniciar a sua leitura, peço que feche os olhos e sem fazer muitos ajustes na posição que você se encontra, o convido para gentilmente “escanear” o seu corpo pensando neste corpo tridimensional (frente, atrás e laterais). Pelos pés seria um ótimo começo, então, venha subindo este olhar pelas pernas, pelve, toda a coluna, caixa torácica, braços e por fim chegamos a cabeça. Abra seus olhos! Te pergunto: durante este “escaneamento” você encontrou algum ponto de dor ou desconforto? Um tombo no meio da sala que resultou em uma luxação traumática do quadril foi o mote para o poeta Ferreira Gullar transformar sua dor em um registro poético lindo e sensível revelando o quanto a dor atormenta o nosso corpo e mexe com nossas emoções. De acordo com a Sociedade Brasileira para Estudo da Dor, estima-se que 37% da população brasileira tem queixas de dores que comprometem o sistema músculo esquelético, dores que não desaparecem há pelo menos seis meses, sendo assim classificadas como crônicas. Este percentual equivale a mais ou menos 60 milhões de brasileiros (LIPORACI, 2020, p.14). Muitos dos nossos alunos/pacientes fazem parte deste percentual e na maioria das vezes passaram por inúmeros tratamentos e atendimentos sem terem conseguido aprender a partir de recursos como autonomia, educação em dor e autocuidado a lidar melhor com as suas dores. A dor remete ao funcionamento biológico do organismo, mas também à esfera psíquica (emoções, afetos, sentimentos e a forma com que cada pessoa se relaciona com sua dor). A Associação Internacional para Estudos da Dor (IASP), define a dor como experiência sensorial e emocional desagradável relacionada a dano tecidual real ou potencial, apresentando os seguintes componentes: percepção dolorosa e reatividade emocional. Procuramos nesta edição classificar e contextualizar brevemente a história da dor com o propósito de nas próximas edições do nosso caderno aprofundarmos os temas: Dor, sistema neurofisiológico e o papel das emoções e Dor, exercícios/movimento, olhar somático e trabalho multidisciplinar. Desde os tempos mais remotos até os dias atuais a dor tem sido objeto de pesquisa e atualmente muitos investimentos são realizados a fim de descobrir novos tratamentos, desenvolver drogas e encontrar soluções para o alívio das diferentes dores que acometem o corpo humano. Nos primórdios os povos primitivos compreendiam bem dois tipos de dores: as dores de caráter externo (queimaduras, feridas e fraturas) e as internas (dores de cabeça e abdominais); já as relacionadas às doenças eram atribuídas a forças sobrenaturais e consideradas castigo dos deuses. Nesta época eram utilizados unguentos, banhos e rezas para alívio das dores. Por volta de VIa.C graças a Hipócrates, a dor ganha contornos regionais do corpo, passa a ser sinal determinante da possibilidade diagnóstica e prognóstica e é codificada em graus de intensidade, forte, leve ou aguda. Como terapêutica eram indicados: hipnose, terapias físicas, exercícios e o uso de drogas como ópio e mandrágoras. No século Século II os Estudos de Galeno tornaram o conteúdo anatômico com base no foco da dor mais preciso e específico em torno de um órgão. Sua teoria serviu de referência para a medicina ocidental até o final do século XVIII, palco que marca o nascimento da clínica médica moderna onde passa-se a observar a dor a partir do mecanismo da sensação e percepção. Foi Galeno quem criou a classificação da dor como pulsativa, pungente, tensiva e lancinante utilizada até os dias de hoje. No século XVII Descartes, alimentado pela visão médica do modelo do homem saudável descreve a dor como uma sensação percebida pelo cérebro após a estimulação dos nervos sensoriais, passo inicial para pesquisas do funcionamento cerebral e dos sistemas nervoso central e periférico. O homem passa a ser visto ao modo de operação de uma máquina. Nesta época é possível localizar um corte epistemológico que resulta no advento da ciência moderna. No transcurso do século XVII até o século XVIII a clínica que era artesanal começa a enquadrar-se aos ideais da ciência moderna – Protoclínica. Ocorre o processo de matematização e a linguística influencia e é utilizada para leitura dos sintomas; os casos de dor passam a ser assistidos em hospitais de ensino. A partir da perspectiva do sintoma como signo indicador da presença de uma doença ocorre uma mudança importante no modo de percepção e observação dos quadros álgicos. No final do século XVIII e início do século XIX, acontece a virada da protoclínica para a anatomoclínica, onde Bichat em seu Tratado da Membrana convida os colegas médicos a um novo olhar sobre a dissecação de cadáveres e estudo da anatomia humana. Os pesquisadores passaram a dirigir a atenção para as lesões dos tecidos e menos para os órgãos afetados. Concomitantemente surgiram estudos amalgamando a dor a componentes emocionais considerando os aspectos físicos e psíquicos da dor, evidenciando seu caráter multifatorial. (BRANDÃO. 2020, P.41). No século XX a Biologia e as transformações tecnológicas contribuem para a mudança nas práticas médicas. Os médicos se aproximam dos peritos, os sintomas deixam de ter uma correlação somente com a lesão, cresce o número de pesquisas e estudos apoiando o trabalho multidisciplinar, inaugurando um novo olhar para dor crônica, à luz desse trabalho. Em 1960 no Hospital de Washington um grupo se une e nasce o Centro Multidisciplinar da Dor que foi percurssor de muitos outros centros. Tipos de Dor Dor aguda: A dor aguda é considerada uma dor fisiológica, como um sinal de alerta da maior importância para a sobrevivência. Tem duração limitada no tempo e

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Como domar o Elefante

Escrito por Constância Matos “A mudança de hábitos é um processo que requer conhecimento de si mesmo, estratégias e resiliência” Queridos leitores, estamos a quatro dias do final de mais um ano, 2021 está indo, um ano de muitos desafios, mas certamente de muito aprendizado. É de costume nesta época do ano fazermos uma  lista com promessas para o novo ano e se observarmos bem a maioria dos itens listados veremos que tem a ver com hábitos/ comportamentos que gostaríamos de adquirir ou mudar em nossas vidas; aprender um idioma, comer mais saudável, deixar de fumar, ter uma rotina de exercícios diários são  itens que estão no topo desta  lista. Pesquisando sobre o assunto para esta edição do caderno encontrei duas abordagens sobre o assunto bem interessantes que compartilho com vocês.  A primeira abordagem é do psicólogo americano Jonathan Haidt, que lança mão da metáfora do elefante e do seu domador para descrever a nossa relação com a aquisição e manutenção de  novos hábitos. Na história um domador tenta controlar um elefante enquanto trilham um caminho pela selva. A personagem elefante corresponde ao nosso lado irracional/inconsciente, que é grande, forte e poderoso; já a personagem do domador seria nosso lado racional/consciente, menor, mais frágil e que precisa de estratégias para domar a vontade do animal de sair correndo pela selva.  Segundo Haidt, o domador sentado sobre o lombo do elefante segura as rédeas e parece  liderar, mas o seu controle é precário, o seu tamanho e proporção em relação ao outro o deixa em desvantagem. Assim sendo, sempre que o elefante e o domador discordam sobre uma direção a ser tomada, o último acaba perdendo. A personagem elefante da metáfora, nosso lado irracional deseja tudo para agora, não lhe interessa o processo,  se frustra, sai correndo pela selva quando o domador não  está de rédeas firmes. O elefante se apresenta quando sabemos que temos que estudar para uma apresentação importante, preparar aulas, preparar-nos mental e corporalmente para nosso dia, mas preferimos usar o tempo fazendo qualquer outra atividade menos o que realmente é pertinente. O nosso  elefante tem um forte apego às coisas costumeiras, pois sabe que o novo requer habilidades que não domina o que exigirá tempo, dedicação e  mais atenção para executá-las.  O domador, nosso lado racional  se não munido de autoconhecimento e estratégias, cede a irracionalidade do elefante e ao fazê-lo se enreda em um padrão de frustração, insegurança, incompetência e confusão, sentimentos que resultam em um “self”encolhido. Me apoio em uma citação de keleman para demonstrar a destrutividade do padrão de frustração para o nosso “self”: O predomínio crescente de atitudes de frustração nos conduz a níveis descendentes de organização, que indicam uma flexibilidade cada vez menor para continuar crescendo, uma habilidade corporal cada vez menor para continuar reformando o self que se é ”[…] velhos padrões da infância, como a teimosia e a dependência, que podem se tornar mais profundamente entranhados a cada repetição racionalizada. Tornamo-nos repetitivos, tediosos e entediados. (Kaleman, p.43) Podemos considerar  que adquirir novos hábitos têm pouca ou quase nenhuma relação com força de vontade, e sim de conhecer a si mesmo, o ambiente e ter estratégias para guiar bem o nosso “elefante”.  A imagem do domador montado sobre um elefante desgovernado  nos faz refletir sobre a importância do autoconhecimento, da  disciplina e da organização para construção de um “self” confiante. Domar o nosso elefante tem o poder de ressignificar a  relação conosco e com o mundo.  A segunda  abordagem explica a contribuição da EAM, (experiência da aprendizagem mediada), para a aquisição de novos hábitos. A EAM se dá por intermédio da interação entre sujeitos, estabelece-se uma relação de ensino/aprendizagem, onde entre o sujeito e a realidade há outra pessoa – um mediador – que utiliza critérios para enriquecer e tornar esta relação mais produtiva. Na EAM o sujeito é encorajado a comparar, coletar, classificar e dar significado à experiência atual em relação à experiência anterior, o que colabora para  uma forma ativa de experiência no mundo. Durante o estudo, os autores concluíram que ações repetidas podem até proporcionar prazer, mas não há transferência do aprendizado para o cotidiano; observa-se aqui a similaridade com a metodologia de trabalho do Inner Balance. Quando desenhou o Método, Bruna Petito estruturou-o  a  fim de que o aluno/aprendiz  por meio da mediação do instrutor/facilitador conseguisse transferir as descobertas de suas possibilidades de movimento para suas atividades na vida. Assim como os  autores do estudo, acreditamos que ações repetidas  não acompanhadas de processos de pensamento e entendimento, inviabilizam a possibilidade da pessoa se organizar no mundo, não produzem aprendizado e consequentemente não serão transformadas em hábitos. É necessário no  percurso da aquisição do novo hábito a atribuição de  significado; é fundamental que o aluno/aprendiz  saiba  por que está fazendo tal coisa, é preciso  o  envolvimento emocional do aprendiz com a experiência, pois deste modo o aprendizado será utilizado em outras situações e momentos da vida.   “O  significado reflete valores, costumes e normas que regulam e moldam comportamentos compartilhados e herdados. Porém, acima de qualquer experiência cultural, a qualidade mediada de significado é expressa pela mudança que traz no aprendizado, por fazer com que seja entendido, fortalecido, integrado e, em análise final, internalizado como sistema de princípios cuja força guiadora está além do conteúdo específico no qual foi adquirido”.  O que interessa nesta maneira de organizar  a aprendizagem é encorajar  o aluno/aprendiz a criar alterações estruturais em si mesmo, para que ele seja capaz de transferir  o aprendizado a outros campos da sua excursão pelo mundo e assim encontrar um equilíbrio e conduzir com serenidade e firmeza o seu elefante.  inspirações para domar o elefante:  Trace objetivos e sempre  comece pelos objetivos de curto prazo. Segundo o estudo, objetivos de curto prazo levam a vitórias pequenas, estas pequenas vitórias motivam as pessoas para conquistarem novas vitórias, ou seja, são as pequenas mudanças que podem fazer com que desejemos traçar e alcançar grandes mudanças.  O entorno, o ambiente têm  muita influência no nosso comportamento. Cercar-se de companheiros de