“Abrir um livro é uma oportunidade de atravessar um portal para outro mundo. É a chance de um encontro.” Sofia de Oliveira Fernandes sobre o Livro que deu o título a esse Caderno Corporal.
Eu gosto muito de ler, de experimentar essas sensações diferentes que a leitura nos proporciona. Ler não é aprender, estudar, mas é reconhecer, transformar sensações, experimentar.
Por isso resolvi escrever esse Caderno Corporal sobre o livro “Lugar Geopsíquico – onde a psicanálise e a geografia se encontram” de Juliana Maddalena Trifilio Dias, editora C & A Alfa Comunicação.
Nos meus grupos de leituras e buscas por atualizações e novidades, conheci a Dra. Juliana e seu livro, comprei e li de uma vez só, tamanho interesse que me despertou. Minha primeira questão era: onde a Geografia e a Psicanálise se cruzam? E a segunda foi algo que me remeteu ao Inner: o lugar, a palavra. Onde ela se encontra na Geografia do Corpo? Agora vou tentar responder para vocês;
A Geografia é uma área da ciência dedicada ao estudo responsável por examinar a superfície da Terra (T maiúsculo) e compreender aspectos físicos e humanos, seria a DESCRIÇ O DA TERRA. Ela se divide em geografia humana e física, é chamada de “disciplina mundial” e também a “ponte entre as ciências humanas e físicas”. A partir desse lugar das ciências humanas, no pós-guerra, começamos a observar mudanças de pessoas, lugares, culturas, que foram indo de um lugar para outro e modificando esse território e culturas. Na década de 60, um geógrafo chamado YiFutuan- um geógrafo sino-americano, ampliou essa abordagem humanista em Geografia. Seus estudos trouxeram a TOPOFILIA, que seriam os vínculos afetivos que o homem estabelece com o lugar. Temos ai a GEOGRAFIA HUMANISTA. Além de autores como o citado, temos Friedrich Ratzel, Anne Buttimer e Armand Fremont. No Brasil, temos o incrível Milton Santos, que se tornou o Pai da Geografia Crítica, uma teoria da geografia do espaço, diferentes formas de compreender a forma-conteúdo, foi um crítico da globalização e com ele veio a discussão de territórios.
Posso considerar que com essa introdução, vocês leitores conseguem acompanhar essa transformação de pensar na geografia só nos aspectos físicos, climáticos, etc…. e trazer o olhar para as pessoas, para sua psique, então aí se acha o ponto do Lugar Geopsíquico trazido pela geógrafa Juliana, que também será nossa entrevistada no nosso Podcast Fala Inner de dezembro. Aproveitem para debater esse assunto entre os seus, é muito rico trazer diferentes olhares nas nossas vidas, nossas experiências. A psicanálise nos leva a lugares no nosso corpo, nossa mente, nossas emoções que a geografia também percorre, mas ora de forma concreta, ora de forma inconsciente. Esse inconsciente do lugar, esse lugar do inconsciente é desafiador e completamente desconhecido até que você se permita viver essa experiência. Aí é que se encontra essa topografia, quando falamos do lugar, e essa topologia, quando falamos do conceito espacial desse lugar.
A Topologia é uma área da matemática que estuda a maneira como os pontos de um conjunto estão distribuídos e conectados (ou não) entre si. Neste contexto, não é levada em consideração a forma exata dos objetos, mas sim, as propriedades que são preservadas quando, por exemplo, estes objetos são deformados.
E você consegue alcançar esse voo do pensamento onde o lugar e o psíquico se cruzam?
Bom, essa já é a segunda questão, sobre a palavra e o lugar; onde ela se encontra na Geografia do Corpo? Elas se relacionam a partir do momento que você coloca a palavra na forma de expressão do indivíduo, a sua presença no mundo. A palavra da forma ao pensamento e também dá a sensação e presença no corpo. Quem faz o lugar?
Um mesmo lugar, por exemplo, uma praça, pode ser vista e experimentada de uma forma por mim e de outra forma por você, certo?!
Essa frase de Lacan: “Penso onde não sou, sou onde não penso.”, o que te diz? Para mim existe este LUGAR, onde a experiência se molda com a emoção e se transforma no lugar geopsíquico.
Na fala da Dra. Juliana podemos adentrar um pouco nesse pensar: “Estas relações entre movimento e lugar, falta e busca também são construídas na dobra topológica entre interno e externo. “Essa busca carrega marcas conscientes e inconscientes, movimentos com escolhas deliberadas e/ou não.
O que há nessas escolhas? A pulsão! Onde mora a pulsão: no coração!
O coração nos aponta caminhos, nos coloca em movimento, nos faz lembrar de momentos.
Na topologia existe então a relação, essa relação que buscamos no Inner entre a escuta e a palavra, o lugar e o corpo, o movimento e o momento, a pulsão e o coração!
Quando falei que a geografia serve como ponto de união entre a ciência física e a humana, podemos realmente fazer essa conexão entre a palavra- o lugar- a topologia- a topofilia. E também surgem aí as terras desconhecidas da geografia, onde “é próprio das verdades nunca se mostrarem por inteiro” (Lacan).
“Os lugares geopsíquicos se encadeiam nas narrativas e promovem sobreposição, condensação e deslocamentos de sentidos entre si. Nessa forma de ligação, tendemos a repetir buscas por lugares que mantém relação com nosso universo psíquico.” (Pag. 200 “Lugar Geopsíquico”).
Vou provocar vocês com: o laço entre as pessoas e os lugares geopsíquicos é atravessado pela palavra, concordam? E a palavra é uma das ferramentas de comunicação entre meu corpo e o do outro.
Para finalizar, o último conceito-desafio: a pausa, o intervalo, o tempo.
“O lugar geopsíquico também é construído e vivido no intervalo entre – a pausa. Buscar e perder- esquecer e lembrar- viver e o saber” E “Uma das riquezas da Geografia é acolher esta pluralidade de lugares para cada um e entre todos nós” (Juliana M.Trifilio Dias).
Desafio você, leitor, a escutar sobre seus lugares geopsíquicos.
Finalizo com esse pequeno texto de Dunker e Thebas:
“Primeiro é preciso saber tocar suavemente no outro, tatear hospitaleiramente e com delicadeza as palavras, deixar algum intervalo para ouvir o silêncio que atravessa a troca de palavras e de turnos. Torna-se uma espécie de caverna, lisa e sem muitas rugosidades, um tambor de reverberação é uma tarefa difícil, pois significa silenciar suas próprias vozes, antecipações e preconceitos quando se está a escutar o outro.” (Livro “O palhaço e o psicanalista. Como escutar o outro pode transformar vidas. São Paulo, Planeta,2021).
“Escutar é dar seu silêncio e atenção, assim como falar é dar palavras para o outro. Escutar é receber as palavras que o outro te envia, receber com cuidado e com rigor, como se recebem presentes, mas também como se recebem ordens, ou uma carta, que requer leitura e interpretação” (Livro “O palhaço e o psicanalista. Como escutar o outro pode transformar vidas. São Paulo, Planeta,2021).
Fica o convite, assistam o Podcast Fala Inner com esse mesmo tema e onde entrevisto a autora desse incrível livro que apresentei aqui brevemente para vocês, com meu carinho da palavra.
Abraço desse lugar geopsíquico
Monica Kestener