Significará tal coisa
que não se deve viver sem ideias?
Não podemos viver sem ideias.
Acaso não se deve respirar?
Não podemos viver sem respirar.
O artista em cada um de nós
Queridos leitores,
Chegamos em dezembro de 2022. Está sendo uma alegria dividir este espaço com vocês. Ao longo deste ano somamos trinta e cinco edições sendo muitas delas colaborativas, o que é uma das primícias do método pois acreditamos que um corpo sustenta o outro. Pensamos, refletimos juntos sobre pesquisa, movimento, corpo e autoconhecimento. Esta edição do nosso Caderno Corporal chega até os leitores num clima de festa, de comemoração por tantas coisas boas vivenciadas. Formações, projetos, parcerias, grupos de estudos; encontros valorosos permeados pela troca entre inners, troca do método com profissionais que são referência no mundo do movimento oportunizada pela segunda edição do Congresso Internacional do Inner Balance. Mas, além de celebrarmos e agradecermos como de costume, convidamos você a refletir conosco sobre o artista que existe em cada um de nós, que diariamente se vê desafiado a dar cor e movimento à vida. Certamente você já deve ter ouvido por aí frases como: “viver é uma arte”, “viver é para artistas”, “a vida é uma arte”. Como chegam estas frases prontas no seu íntimo? O que seria ser um artista da vida? Será que todo e qualquer indivíduo pode ser o artista da sua vida? Se a vida é uma arte, como você tem construído a sua? Você a vê como uma tela? Uma instalação? Uma dança/performance? Um grande teatro? Um grafitti daqueles imensos que tomam um quarteirão inteiro? Uma vídeo projeção “vide” time square? E se a vida fosse uma celebração contínua, das pequenas às grandes conquistas fazendo com que a punição, principalmente a mental, não existisse? Ao contrário, que diante de algo que fugisse às expectativas pudéssemos virar uma chave que nos auxiliasse a olhar o “erro” como parte do aprendizado; considerar que a pincelada no ponto inesperado da tela, a torção no pé no dia da apresentação, o “died” do som ou do laptop, sejam artifícios da vida/arte para nos ensinar a lidar com os “inesperados”. Um caminho para o nosso desenvolver, o nosso florir. É compreensível que as incertezas da vida/arte, a urgência do performar, a liquidez e a rarefação das relações nos fragilizam, mas como nós enquanto educadores somáticos reagimos diante das demandas que nos são apresentadas? Temos approach para lidar com as nossas vulnerabilidades? Onde nos apoiamos quando a nossa arte “não deu certo”, quando ela não pôde ser exibida ou não se enquadrou as nossas expectativas e a do outro? Sempre falamos para as pessoas as quais nos buscam como suporte, os nossos alunos/pacientes como se organizarem mental e corporalmente. E nós? O quanto resta do artista propositor quando ele “caí”? Talvez celebrar os desvios, as caídas tenha igual importância se deixamos de pensar a afirmação “a vida é uma obra de arte”, como algo do tipo – como fazer a vida bela e harmoniosa, sensata tal como os pintores, artistas e designers tentam fazer com a sua arte e composições? E sim entender “a vida é uma obra de arte” como um fato, onde existe liberdade e vontade de escolha, características que deixam as suas marcas na forma de vida e confrontam diretamente o poder causal das forças externas. ( BAUMAN, P.72). O poder causal das forças externas está aí para nos lembrar que não somos deuses e que a vida é movimento e que movimento é vida. O movimento permite que o fluxo da vida se mantenha contínuo e não nos deixa esquecer que valores atribuídos às coisas mudam conforme a passagem do tempo e influência de gerações. Segundo BAUMAN, pessoas de gerações passadas pensavam coisas de valor permanente, imperecível, resistente aos caprichos e fluxo do destino. Seguindo os hábitos dos antigos mestres, prepararam suas telas antes de aplicar uma primeira pincelada e se certificaram que a tinta não iria se fragmentar. Já as novas gerações buscam as habilidades de artistas celebrados dos “happenings” e “instalações”, dadas as incertezas do curso que estas artes tomam durante a exposição e interação com o público. (BAUMAN, P. 75).
Em suma, se permitirmos que as coisas que fazemos nos expressem; se lhes damos a nossa assinatura, estamos sendo artistas de nossas vidas. Estamos encontrando o artista em cada um de nós tornando a vida uma celebração contínua passando a não esperar o final do ano para traçar, fazer planos e nos amaldiçoar quando não os alcançamos. Seja você um artista da vida de característica conservadora ou contemporânea; que tal transformar a sua vida num festival de brilho durante todo o ano, não algo somente reservado às festividades?
Boas festas, FELIZ 2022 e boas reflexões!!!
Obrigada por nos acompanhar!
Constancia Màtos
*A Rede Inner é um espaço aberto para novos olhares, saberes, buscando sempre conexões que nos enriquecem enquanto elementos integrantes da natureza e do universo.
* O caderno Corporal terá uma pausa e voltará com novas reflexões em 2023.
Referências consultadas
BAUMAN. Zygmunt – A Arte da Vida. Editora Zahar, Rio de Janeiro. 2008
https://annelisegripp.com.br/approach/article acesso em 05 de dezembro de 2022
https://ijpr.org.br/?jet_download=3608 – Elizabeth Amaral – Vivendo de Corpo e Alma. O segredo da Flor de Ouro, acesso em 05 de dezembro de 2022
https://colunastortas.com.br/modernidade-liquida – Vinicius Siqueira. O que é Modernidade Líquida? acesso em 05 de dezembro de 2022
Post Inner Balance – Estratégias para diminuir as pressões do final do ano – para iniciar agora
https://www.instagram.com/p/ClL5iKmrkWA/?igshid=NTdlMDg3MTY, acesso em 05 de dezembro de 2022
Inner no You tube – Gabrieli Maroso – Como acalmar o stress de fim de ano, acesso em 06 de dezembro de 2022