Crescer – A Prática da Autoformação
INNER SENSE

Data

Você está colocando na balança o que você faz e o que você estuda? 

Escrito por Bruna Petito                                    

Querido leitor, bem vindo ao nosso primeiro caderno de 2022.  Feliz estou em trazer mais um tema para pensarmos juntos. Janeiro é o mês em que desenhamos planos com o objetivo de  nos direcionar rumo às metas do ano, há quem os tenha traçado até mesmo em dezembro. Colocar no papel é um grande passo, mas é sabido que para o sucesso das metas, torna-se necessário uma  nova postura diante das coisas do mundo, exige mudança e movimento de nossa parte, movimento no sentido de direção, porque conscientemente ou não estamos em constante movimento. Como estão os seus movimentos? Que mudanças serão necessárias para assumir uma postura que o auxilie a alcançar as metas e objetivos traçados para o novo ano? Você acredita que o nosso corpo é passível de mudanças? O  seu mar interno está aberto às possibilidades que ampliam a vibração com o mundo?

Na nossa edição anterior falamos sobre mudanças de hábitos, nesta edição o convite é refletirmos sobre “o crescer, sobre a “autoformação”, sobre os caminhos traçados para o nosso encontro com o mundo. Para Keleman (estudioso do corpo que venho pesquisando há algum tempo), formar é crescer, é ampliar a nossa motilidade e coordenação, é inventar novos comportamentos, sentimentos e respostas, o que segundo ele difere do saber onde se juntam dados e conceitos (keleman, p. 88). Hoje em dia facilmente dirigimos toda a nossa energia à reunião de dados, escolhemos inconscientemente acumular informações e uma vez que ocupados estamos em saber, nos tornamos estudantes escravos perdendo o que há de mais rico no processo da autoformação que é a auto-experienciação. Keleman, diz ainda que a psicanálise ajudou-nos muito a saber quem somos, mas saber quem somos é diferente de formar a si mesmo. Ao saber quem somos aprendemos a nos conhecer, mas de certa forma acabamos permitindo que outros direcionem a nossa formação:

Há uma diferença entre saber quem somos e formar quem somos. O movimento psicanalítico desabou no mito do “conhece-te a ti mesmo”. Desde os tempos de Sócrates, conhecer-se foi o primeiro objetivo é a mais alta realização da nossa cultura — MAS ISTO QUER DIZER: FAÇA O QUE QUISER MAS NÃO SEJA VOCÊ MESMO. NÃO SE FORME A SI MESMO. DEIXE QUE NÓS FORMAMOS VOCÊ. (Keleman, p. 88. 1996).

De acordo com Keleman, crescer é mudar a forma do nosso viver, e que nunca é tarde para escolhermos nos “remoldar”, é um ciclo natural da vida se não nos fixarmos em conceitos que nos são impostos, se permitirmos que nossa auto-expressão gere a energia para a autopercepção. Responder a algumas perguntas sugeridas por Keleman poderá nos auxiliar a pensar a nossa relação com a autoformação, são elas: como nos colocamos diante de propostas de auto experiência, nos colocamos de maneira desconfiada e duvidosa? Somos sociáveis e abertos?  Como isto chega e reflete no meu corpo; consigo identificar? Se consigo identificar corporalmente onde elas aparecem? Na região do pescoço, nos ombros, na coluna, nos joelhos, olhos, estômago? Keleman acredita que as nossas atitudes refletem em algum ponto do nosso corpo o que vai interferir na forma que nosso corpo assume (rígido, flácido, volumoso etc) o enfrentamento de situações que concernem a resolução das coisas da vida, das simples às mais complexas, direcionando os pensamentos e ações do eu. A forma assumida no presente pode encorajar ou não a nossa autoformação e o modo  como nos relacionamos com o nosso compromisso de crescer e estar no mundo.

Mas então, como alimentar a energia que expande o  mar interno e desta forma propiciar um estado de abertura para a autoformação? Como organizar uma forma de estar e viver no mundo, aprender, reaprender e compartilhar o apreendido, não permitindo o acúmulo do conhecimento, mas a troca, e desta forma contribuir para que o mundo seja um grande mar de experiências expandidas? A resposta: sendo expressivos, fazer uso sim da autoinvestigação, conectar conosco reconhecendo nossa forma de movimento, nosso ritmo e funcionamento, de como me organizo muscularmente sendo “eu”, desfazendo-se dos papéis, aprendendo a lidar com o inesperado, buscando estar presente de modo ampliado, mas, ao mesmo tempo permitir a expressividade, se colocar em experiência com outros corpos, aceitar o risco do desconhecido; estas atitudes nos abrem a conexão com  o outro e a vontade de realizar um trabalho legítimo de sermos agentes de mudança a partir do lugar que ocupamos no mundo, em nosso caso, instrutores/facilitadores de movimento.

“Limitamos nossa experiência tentando eliminar o inesperado, criando uma forma inalterável, uma pessoa estática. Mas a estabilidade aparente deste estilo de vida limitado é apenas uma ilusão. Muitos de nós amarram coisas através de pensamentos e lembranças, através de conceitos em vez de sentimentos. Se perpetuarmos este processo cerebral, formaremos ideais, lutando para viver à sua altura. Ideais têm de ser preenchidos com a nossa energia ou não funcionam. Assim, agimos como se, ou nos forçamos a agir. Este desempenho e esta pressão criam contrações em nós que sequer sabemos possuir. Tudo o que sabemos é que nossas vidas são dolorosas, estúpidas ou superficiais – insatisfatórias, de algum modo. Tentar formar conexões apenas com o seu cérebro inibe a sua vida emocional, restringe a expansão que reforma o seu “self”.[…],quando vivemos nossas próprias vidas, tomamos posse da nossa possibilidade inata de expansão e a usamos para moldar sentimento, prazer e satisfação, em vez de ideais e crenças. Passamos nossa vida nos tornando alguém em vez de mantendo uma imagem. (keleman, p. 216-217).

Keleman, fala do amor como uma experiência expandida, um estado de vitalidade em que o nosso coração anula a cabeça, fala ainda que podemos experienciar esta sensação a qualquer hora que queiramos, basta acreditarmos nas possibilidades de nossos corpos e na potencialidade do nosso mar interno.  É preciso também que a qualquer sinal de uma faísca de excitação permitamos que esta faísca se expanda,  assim como ela tem poder para fazer fogo ela pode se apagar, se encolher em um ambiente que não seja propício ao seu desenvolvimento. Colocarmos o nosso corpo para experimentar o novo, o aprendizado e posteriormente compartilhar o aprendido faz parte do que o universo espera da gente, faz parte do estar dentro e estar fora de mim, é o que nos faz crescer, é o que me “trans-forma” em um ser agente no mundo. O Inner Balance nos propicia ferramentas riquíssimas disponíveis para que nós instrutores/facilitadores do movimento possamos experienciar em nossos corpos nossa autoformação e assim, termos condições de levar o aprendizado para o mundo. Fica aqui o convite para mergulharmos neste mar de possibilidades proporcionado pelo método e de fazermos um ano recheado de conhecimento e melhor ainda, de sermos agentes e disseminadores dos benefícios do inner balance para todos que estão abertos a esta inteligente forma de dar movimento ao corpo e a vida.

Beijos e movimento  🔵

Bibliografia Consultada

KELEMAN Stanley. O corpo diz sua mente. 2ª ed. Summus editorial. São Paulo, SP. Brasil,1996

Outras mídias

Spotify – Palestras Filosóficas Nova Acrópole – Profª Lúcia Helena Galvão

O Futuro começa agora – As 10 bases para a autoformação.

https://open.spotify.com/episode/5SF2QmvrcGxDrTSIH5yFr3?si=17HjTBdxTwKogWO4dFxm9Q

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