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Nervo Vago: o que é e por que virou foco nas discussões atuais

Você tem ouvido falar mais sobre o nervo vago ultimamente? Com certeza sim e isso não é por acaso: cada vez mais, profissionais do movimento, terapeutas e educadores somáticos estão direcionando sua atenção para esse importante componente do sistema nervoso autônomo. O nervo vago está no centro de uma conversa essencial sobre regulação, segurança interna e integração corpo-mente.

Em um momento em que buscamos compreender o ser humano de forma mais sistêmica e sensível, o nervo vago aparece como uma ponte entre o que sentimos, como nos movemos e como habitamos o nosso corpo. Sob as lentes da biotensegridade e da neurociência, entendemos o corpo como uma rede integrada, e não como um conjunto de partes isoladas. Essas redes se comunicam em tempo real, sendo o nervo vago  um de seus principais condutores. Neste artigo, exploramos por que esse nervo está no centro das atenções e como ele pode transformar o cuidado com o corpo em movimento.

O nervo vago e por que ele é importante?

O nervo vago é o mais longo dos nervos cranianos e percorre um trajeto do cérebro até o abdômen, passando por estruturas como o coração, os pulmões e o sistema digestivo. Seu nome vem do latim vagus, que significa “errante”, uma referência à sua trajetória ramificada e difusa pelo corpo (Porges, 2011). Além disso, mais do que um caminho anatômico, ele se torna um verdadeiro condutor de estados internos, conectando corpo e mente em uma dança contínua de percepção e resposta.

Do ponto de vista do sistema nervoso, o nervo vago faz parte do sistema parassimpático, sendo responsável por funções essenciais como desacelerar os batimentos cardíacos, favorecer a digestão, reduzir inflamações e promover uma sensação de calma (Rosenberg, 2017). Ele participa ativamente da regulação emocional e da nossa capacidade de responder ao estresse, resiliência autonômica.

Por outro  lado, é possível estimular o nervo vago de forma  a melhorar nossa sensação de segurança interna, aprofundar a percepção corporal e favorecer estados de autorregulação. Quando profissionais do movimento compreendem o funcionamento do nervo vago, ampliam a possibilidade de oferecer práticas mais sensíveis e integradas. Nessas práticas, o corpo é visto e cuidado em sua totalidade, e não apenas treinado em partes. Além disso, isso implica em uma abordagem mais integrada e sensível, que reconhece a complexidade do ser humano, em vez de focar apenas em aspectos isolados de seu movimento ou estrutura.” (Avison, 2021).

Por que o nervo vago está no centro das discussões atuais?

Nos últimos anos, o nervo vago passou a ocupar um lugar central nas pesquisas sobre saúde integrativa, especialmente nas áreas que unem neurociência, movimento e regulação emocional. Isso  ocorre porque ele está diretamente envolvido em funções essenciais à nossa sobrevivência e bem-estar, como a resposta ao estresse, a digestão, o sono, o sistema imunológico e até a forma como nos relacionamos socialmente.

Estudos recentes apontam que a boa funcionalidade do nervo vago, tônus vagal, está associada à capacidade de autorregulação do sistema nervoso autônomo. Essa capacidade promove estados de calma, foco e vitalidade (Porges, 2011; Dana, 2020). 

O papel da abordagem somática e da biotensegridade

Nesse contexto, a abordagem somática tem ganhado destaque como um caminho potente de reconexão com o corpo e reorganização interna. Por isso, através de práticas que cultivam a escuta corporal, o toque consciente, a respiração e o movimento fluido, criamos as condições para que o sistema nervoso possa se reorganizar a partir de dentro. Essa é uma das bases do Inner Balance: oferecer experiências que ampliem a percepção e fortaleçam os circuitos de autorregulação.

Além disso, a ciência da biotensegridade e as pesquisas sobre o sistema fascial vêm contribuindo com uma nova compreensão do corpo como rede interconectada e responsiva (Levin, 2019; Scarr, 2021; Schleip et al., 2012). Sabemos hoje que a fáscia possui inervações sensoriais ricas, e que sua interação com o sistema nervoso autônomo é essencial para o equilíbrio entre ação e recuperação. O nervo vago capta e responde aos estados internos e ao ambiente, facilitando ou dificultando nossos padrões de movimento, comportamento e sensação de presença.

Em suma, a crescente busca por saúde integrativa, práticas que respeitam a complexidade humana e estratégias de autocuidado eficazes colocam o nervo vago como um elemento importante para transformar a forma como cuidamos do corpo e da mente. Nesse sentido, não se trata de uma “moda”, mas de uma mudança de paradigma: sair do controle e da performance, e entrar na escuta, na relação e na regulação.

Manifestações clínicas e funcionais de um nervo vago disfuncional

Com isso, quando o nervo vago perde sua capacidade de responder de forma eficiente aos estímulos internos e externos, o corpo passa a operar em estado de alerta prolongado. Essa disfunção vagal pode se manifestar de maneiras sutis no início, mas, com o tempo, pode gerar impactos significativos na saúde e no bem-estar.


Entre os sintomas mais comuns estão a ansiedade, a dificuldade de concentração, a insônia e um cansaço que parece não passar, mesmo com descanso. Também é comum perceber alterações digestivas, como digestão lenta, sensação de “nó no estômago” ou intestino preso. 

Esses sinais ganham ainda mais relevância quando olhamos para o contexto em que vivemos: um cotidiano acelerado, com excesso de estímulos sensoriais e cognitivos, poucas pausas reais e uma cultura que valoriza o fazer constante em detrimento do sentir. Essa hiperatividade do sistema nervoso causa uma desconexão da percepção e regulação das necessidades do sistema 

O resultado? Um corpo que funciona no modo piloto automático, mesmo na ausência de ameaças reais. Nesse estado, a percepção corporal, a fluidez do movimento e a conexão com outras pessoas ficam comprometidas.

No Inner Balance, compreendemos que o corpo atua sempre com a melhor eficiência possível, mesmo em contextos de sobrecarga. No entanto, manter-se nesse estado exige um alto custo energético e emocional. Por essa razão, ao promover a modulação do sistema nervoso, buscamos reconectar o corpo ao ritmo natural da vida, à sua sabedoria interna e a estados que favorecem a regeneração, o descanso e a presença.

 

Estímulo vagal e auto regulação: o papel das práticas corporais 

Promover um sistema mais harmônico começa no cotidiano, nas formas como respiramos, nos movemos, sentimos e nos relacionamos. É possível estimular naturalmente o nervo vago por meio de práticas que despertam a escuta interna e o senso de presença, ativando circuitos de segurança e autorregulação.

Dentro de um ambiente terapêutico ou educativo, o papel da segurança somática é central. O corpo só pode se abrir à mudança quando se sente seguro,  e essa segurança é construída a partir da qualidade do ambiente, da escuta, do ritmo da condução e da autonomia respeitada, trata-se de criar um espaço onde o corpo possa confiar novamente em si.

Práticas que envolvem movimento com foco em interocepção permitem que o sistema nervoso refine suas respostas e reduza os níveis de hiperalerta. Quando essas experiências são compartilhadas com empatia, entramos no campo da co-regulação: a presença de um outro que oferece um campo de segurança relacional, favorecendo a reorganização interna mesmo em momentos de instabilidade.

Abordagens corporais e escuta somática


Esses princípios podem ser integrados de forma sensível em diversas abordagens corporais. No Pilates, quando o foco vai além da execução mecânica e se orienta pela escuta do corpo em movimento. No Yoga, através da respiração, dos Bandhas e da presença como prática. Na Terapia Manual, isso ocorre quando o toque é usado como uma forma de escuta e comunicação, e não apenas como instrumento de correção. Da mesma forma, nas práticas somáticas, cada gesto, cada pausa e cada intenção se tornam pontes entre o sentir e o regular.

No Inner Balance, utilizamos essas estratégias como parte de uma pedagogia corporal integrada, que respeita a individualidade, favorece a regulação do sistema nervoso e estimula a capacidade de transformação de dentro para fora. São recursos acessíveis, enraizados no corpo e na presença, que nos lembram que o cuidado começa na forma como nos escutamos.

Integração com a prática profissional

Na prática observar os sinais do sistema nervoso e compreender como facilitar estados de autorregulação se torna um caminho para oferecer cuidado integrado. A educação somática do Inner Balance contribui diretamente para isso. Ela oferece um mapa do comportamento do sistema biológico, baseado na neurociência, permitindo que profissionais do movimento e da saúde integrem teoria e prática por meio da escuta do corpo vivo.

O Inner Balance oferece uma nova perspectiva sobre o corpo e o processo terapêutico, proporcionando experiências que estimulam a reorganização autônoma do sistema, respeitando seu tempo, história e inteligência. A modulação vagal acontece por meio de uma escuta que inicia na interocepção, passa pela qualidade do toque e do movimento, e se mantém em um ambiente de segurança e co-regulação.

Essa abordagem somática se adapta a diferentes contextos profissionais: no ensino de Pilates, na condução de uma aula de Yoga, no espaço da Terapia Manual ou em grupos de autocuidado.

No Inner Balance, acreditamos que a transformação acontece quando o corpo reconhece que está seguro, que pode sentir, pausar e respirar. E, ao acessar esse estado, o sistema se reorganiza.

Em resumo:

O nervo vago vai muito além de uma estrutura anatômica — ele atua como uma ponte entre o corpo, a mente e o ambiente. Ao compreendermos sua função e aprendermos a estimulá-lo com cuidado e escuta, abrimos espaço para práticas mais sensíveis, integrativas e eficazes.

“Dessa forma, seja na sala de aula, no consultório ou no cuidado pessoal, cultivar estados de segurança e presença é um convite para o corpo se autorregular com mais autonomia, equilíbrio e vitalidade.

Em outras palavras, é no encontro entre ciência e sensibilidade que floresce o potencial para uma transformação somática genuína e duradoura.

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