Às vezes, as reações corporais são mais drásticas do que o rubor breve ou uma lágrima ocasional.
Suzanne O´ Sullivan
Muito possivelmente você já ouviu queixas e relatos de dores lancinantes em pessoas que foram viradas do avesso e têm seus exames clínicos classificados como normais. Chegamos à 31ª edição da publicação quinzenal do nosso caderno corporal e mais uma vez vamos trazer o assunto DOR. Nesta edição não vamos tratar de falar sobre os tipos de dores existentes, mas sim pegar a trama tecida pelo convidado do Fala Inner, o Fisioterapeuta Lisandro Ceci, a fim de trazer um entendimento sobre o fato de que algumas pessoas têm seus exames clínicos normais e no entanto sua saúde física e emocional se encontra abalada por não encontrarem uma causa aparente para suas dores. Também é de nosso interesse fazer uma reflexão sobre como nós profissionais do movimento através de nosso trabalho podemos acolher e ajudar estes indivíduos desacreditados que um dia poderão viver mais felizes e saudáveis corporalmente, mesmo tendo em algum momento ouvido como diagnóstico a frase: “ISTO É COISA DA SUA CABEÇA” e hoje a têm impressa na mente e corpo. E realmente quando a dor não acontece devido a uma lesão a “coisa” toda pode ser da nossa cabeça, pois se trata de uma desordem química do sistema nervoso.
Keleman em “O corpo diz sua mente”, fala do poder do nosso sistema nervoso de conter nossa expressão, o nosso estado vibratório e de intensificar ou dissipar uma dor. Segundo Keleman, um corpo que se reconhece parte do ambiente tem a capacidade autorreguladora como aliada nos processos álgicos. Assim como Keleman, o Fisioterapeuta Lisandro acredita que a autopercepção, que é a capacidade de organizar a nossa paisagem interna e externa, potencializa o diálogo corpo/mente diminuindo as chances do sistema nervoso fazer uma interpretação perceptiva equivocada, evitando desta forma que ele pegue algo pequeno e o torne grande. Esta interpretação errônea de que o sistema nervoso tende a fazer, acontece em função da maioria das dores serem percebidas pelas mesmas áreas que processam as emoções. Algo que precisa ser lembrado é que os aspectos emocionais como: ansiedade, depressão, tensão e estresse também influenciam e podem acentuar os quadros álgicos. Talvez a primeira atitude de um profissional para com casos onde não se é encontrada uma lesão que justifique a magnitude de uma dor seja escutar o aluno/paciente. É muito comum nas salas de atendimento e consultórios a ausência de uma escuta ativa e sensível pautada numa boa comunicação, numa ressonância entre profissional e aluno/paciente. Quando a presença corporal de ambos entra em ressonância acontece a reciprocidade, este encontro entre dois corpos facilita o entendimento do aluno/paciente, da percepção do próprio corpo, do corpo do outro e do ambiente, facilitando o experienciar de si mesmo.
Outro fator corriqueiro quando não se encontra uma causa para as dores é classificá-las como um distúrbio “psicossomático”. Devemos tomar certo cuidado ao utilizarmos termos que muitas vezes agravam ainda mais o estado de ansiedade do indivíduo. Existe uma grande confusão conceitual deste termo, tanto na área da medicina quanto na área da psicologia. A conceituação moderna influenciada por Helen Dunbar e Jung é o que mais se aproxima dos estudos do corpo quando se fala em Educação Somática; é o entendimento de que não existe uma distinção entre mente e corpo, ou seja, é muito íntimo o inter-relacionamento dos traços psíquicos e corporais. Os transtornos psicossomáticos realmente existem e são considerados como doenças nas quais uma pessoa sofre com sintomas físicos expressivos causadores de sofrimento e deficiências reais não detectados em exames físicos ou clínicos. Estes distúrbios são singulares, não obedecem regras e podem afetar qualquer parte do corpo. Podem manifestar-se inclusive de forma agressiva como paralisia, convulsões, doenças autoimunes entre outras. Não vamos nos estender aqui pois este será um tema a ser abordado proximamente.
Deixamos aqui algumas perguntas importantes para você refletir acerca do seu papel enquanto profissional do movimento:
Você crê que seja pertinente dar corpo à educação terapêutica; mostrar para os alunos/pacientes que aprender sobre as coisas pertinentes ao funcionamento do organismo repercute em um estado de conscientização deste corpo no mundo/corpo vivo? Quanto ao entendimento do corpo vivo, realmente ele pode corroborar para a autorregulação e amenizar estados álgicos não complexos?
Você tem respeitado a singularidade e subjetividade do seu aluno/paciente, lembrando que cada pessoa tem reações diferentes diante de um quadro doloroso? Tem considerado o estado emocional desta pessoa que chega buscando ajuda?
Vamos pensar sobre isto?
A Rede Inner é um espaço aberto para novos olhares, saberes, buscando sempre conexões que nos enriquecem enquanto elementos integrantes da natureza e do universo.
Nota: Acompanhe o nosso podcast: Fala Inner com a Inner Monica Kestener
Beijos e até a próxima edição.
Constância Matos.
Referências consultadas
Keleman Stanley. O corpo diz sua mente. Summus Editorial – 2ª edição. São Paulo, 1996.
O´ Sullivan Suzanne. Isso é coisa da sua cabeça. Histórias verdadeiras sobre doenças imaginárias. Ed Best Seller – 1ª edição. Rio de Janeiro, 2016
Toda Dor é uma percepção cerebral e toda dor crônica envolve neuropsiquiatria. https://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/arquivos/4503
Post Inner Balance – Giovanna Marqueli https://www.instagram.com/reel/Ci0tCY4jnDC/?igshid=MDE2OWE1N2Q=