Viemos ao mundo para CRESCER
Nós não adiamos nossas vidas hoje; nós as adiamos até nosso leito de morte.
Steven Pressfield
Nascemos, crescemos, nos tornamos adultos, envelhecemos e morremos; o conhecido CICLO DA VIDA. Nos encontros de mentoria da nossa rede muito temos conversado sobre o quanto afetamos e somos afetados pelo outro; acreditamos que a presença de cada sujeito vivente deixa uma marca, um registro no universo, acreditamos que os encontros, as parcerias que fazemos na vida sempre têm um propósito. Pensando o quanto o propósito está atrelado ao foco para realizar as coisas, ao tempo e ao planejamento (tema abordado na edição anterior do nosso caderno), convidamos vocês para uma reflexão acerca da Procrastinação, ato que comumente e sem pensar praticamos, que aos olhos de muitos é mal visto, mas aos olhos de estudiosos da criatividade não é tão mal visto assim. Pensam estes estudiosos que muitas vezes procrastinar esteja relacionado com um tempo a mais que nosso corpo encontra para organizar a razão, as emoções e a intuição, principalmente quando o que está em jogo são escolhas importantes que precisamos fazer na vida, ou de trabalhos em que precisamos nos debruçar e pesquisar com maior afinco. Outros acreditam que de certa forma talvez ela, a procrastinação seja até um ato de rebeldia contra um sistema que trabalha para estarmos o tempo todo produzindo. Muitas hipóteses, não é mesmo? Mas, que estas não sejam uma desculpa para não utilizarmos o tempo da melhor forma para atingirmos os nossos objetivos. Tempo, procrastinação, propósito, como mencionado acima andam juntos: como identificar uma procrastinação negativa? Como identificarmos em nós o que os gurus corporativos vêm chamando de procrastinador ativo e o procrastinador patológico? Uma vez que em algum momento da vida vamos deixar para amanhã alguma coisa a ser feita, talvez seja pertinente aprender a identificar o quanto temos isto em nós, a fim de que possamos traçar estratégias para agir evitando desta forma que a procrastinação torne-se um hábito, já que ela pode ser também negativa; afetar e nos fazer adiar, até mesmo nos desviar do caminho dos nossos propósitos. O quanto podemos adiar? Tem gente que acredita que desde que não esteja prejudicando o outro, não tem problema procrastinar. Vocês concordam? O que nos faz adiar? Como nos sentimos depois de adiar? O psicólogo americano Joseph Ferrari, professor da Universidade De Paul, de Chicago, um papa sobre o assunto realizou uma pesquisa entre estudantes e o resultado foi surpreendente: a maioria dos estudantes entrevistados disseram que adiam por medo, insegurança e por terem dificuldades com tarefas mais complexas. Também relataram que se sentiam ainda mais inseguros quando não conseguiam cumprir os prazos e cerca de 70% destes alunos entregam os trabalhos no prazo caso haja alguma espécie de punição. Joseph explica que isto acontece devido ao nosso sistema que foi desenhado exatamente para separar o urgente (córtex pré-frontal), parte consciente que o tempo todo trabalha nos lembrando que precisamos adiar certas recompensas e nos organizarmos para o futuro e o sistema límbico (relacionado a recompensas de curto prazo), este não menos importante que o primeiro nos chama para aquele docinho no meio da dieta, nos convida a parar no meio do trabalho e rolar o feed da rede social, ler o prefácio do livro que acabou de chegar, fazer facetime com alguém que queremos bem; estas ações relacionadas a este sistema que não difere muito de quando os primeiros habitantes escolhiam comidas mais gordurosas ou copular com o propósito de se tornarem fortes, ágeis e em maior número criando um cenário favorável para preservação da espécie. Pode ser que até aqui vocês estejam pensando que talvez procrastinar faça mesmo parte do nosso crescer, do nosso aprendizado no percurso de SER humano, e vocês não se equivocam ao pensar assim: a procrastinação foi tema de discussão de Hesíodo (650 a.C.), Sêneca (4 a.C.) e o é até os dias de hoje, haja vista que estamos aqui abordando o assunto. O que é necessário como Mônica e eu sugerimos no início do texto é identificar o quanto e porque procrastinamos, sabendo que o excesso da procrastinação diminui a nossa entrega, a nossa vontade de deixar o nosso rastro, de contribuirmos com o nosso trabalho para com o outro e com o mundo. Identificar é o melhor caminho, responder para si mesmo com verdade e clareza se o fazemos por medo do fracasso, medo no sentido de resistência de crescer, excesso de perfeição, por falta de organização do tempo ou até mesmo por não conseguir uma boa gerência das emoções. O livro “A Guerra da Arte” de Steven Pressfield fala muito sobre a procrastinação como uma espécie de resistência, um medo de crescer nos condicionando a usarmos os problemas como desculpas para o não realizar as coisas, levando-nos a desenvolver patologias relacionadas a angústia existencial pela não realização de nossos sonhos. Fugimos de nós mesmos e do diálogo interno, lançamos mão do uso de chocolate, do sono, das drogas, abuso de álcool, uso excessivo das redes ou outros subterfúgios que nos distraem e corroboram para o bloqueio de nossa potência criativa. Bauman, autor que sempre trazemos para nossas reflexões, considera a procrastinação, uma maneira de manipulação do tempo, no sentido de que o que foi adiado é amparado por um processo de produção sempre estendido, um querer chegar, mas sem pressa. Segundo ele, a não pressa nos envolve em um nunca acabar o processo de produção e nos mantém continuamente nos processos de criação. Na história temos conhecimento de alguns procrastinadores famosos, que não tinham pressa alguma de terminar os seus trabalhos, mas que em algumas situações usavam de artifícios para finalizarem as tarefas. Óbvio que de alguma maneira o procrastinar interferiu nas suas relações com os outros e com eles mesmos. Leonardo da Vinci mesmo levou dezesseis anos para pintar a sua Monalisa, ainda considerada como obra inacabada. Reza a lenda que ele não conseguiu receber o pagamento pela obra e tampouco entregar para quem a havia encomendado. O autor de Os Miseráveis, Victor Hugo lutava contra a procrastinação, conta-se que ele escrevia nu, deixava as suas roupas com um de seus funcionários e as roupas só lhe eram devolvidas quando ele escrevia por algumas horas, assim era obrigado a ficar no quarto e cumprir com a tarefa. Mozart não conseguia passar para o papel o que tinha no mundo das ideias, entre outras tantas. Como facilitadores nos nossos movimentos de estudos e em desenvolvimentos de nossos projetos será que estamos conseguindo entender a nossa relação com a procrastinação? Conseguimos identificar se ela está nos desviando de nossos propósitos? Como podemos a partir da percepção de nós mesmos tecer um diálogo com o externo e desta forma identificar as nossas ações e reações diante dos desafios cotidianos e assim tecermos estratégias em rede com o objetivo de Identificarmos pontos em comum no que diz respeito ao lado negativo da procrastinação e juntos estabelecermos lugares favoráveis ao nosso crescimento, e também da rede como um todo? Como podemos fazer o melhor aproveitamento de tudo que nos é ofertado? São questões que deixamos aqui para a nossa reflexão. E se por acaso tenha deixado de fazer algo hoje, não se culpe, que atire a primeira pedra quem nunca deixou alguma coisa para fazer amanhã. Use da franqueza para responder a si mesmo e que isto traga de alguma forma um aprendizado.
Escrito por Constância Matos e Monica Kestener
Referências consultadas:
- BAUMAN. Zygmunt. Modernidade Líquida. Ed. Zahar. Rio de Janeiro: 2001
- PRESSFIELD. Steven. The War of Art: Break Through the Blocks and Win Your Inner Creative Battles.
- A ciência da procrastinação. Alexandre de Santi. Superinteressante. Abril, 2019
https://super.abril.com.br/comportamento/a-ciencia-da-procrastinacao/
- Hoje não, amanhã. Margot Cardoso. Vida Simples, ed. 242. Abril, 2022
https://vidasimples.co/colunistas/procrastinar-hoje-nao-amanha/
- O que é procrastinação agendada? Tiago. Tira do papel. novembro, 2021
- Análise do livro A Guerra da Arte. Liberdade profissional. André Lug
https://andrelug.com/a-guerra-da-arte-de-steven-pressfield-analise/